quinta-feira, agosto 04, 2011

A cesta


Ontem olhei para dentro da cesta e vi-a quase vazia. Um livro, o que leio nos transportes e antes do almoço, um remédio e um papel.
Porque é que saio com ela porta fora todos os dias? Posso perfeitamente pôr tudo aquilo na carteira e dispensar a cesta…
No autocarro ocupa um espaço maior que o seu tamanho indicia, tenho sempre de ter cuidado para não magoar alguém, se me sento não cabe bem no chão a meus pés e acabo com ela no colo, enquanto manobro os braços para ler. As senhoras tanto lançam um olhar de desdém como de curiosidade. Os homens nem ligam.
Resumindo, um verdadeiro empecilho.
Mas um empecilho de que não me consigo livrar. O meu gesto já se tornou automático. Agarrar nas suas pegas e sentir o seu peso ao caminhar, é tão natural, que me iria sentir nua sem ela.




Se a cesta começou por ir às reuniões Europa fora, acabou por ir nas miniférias a Istambul, e acompanha-me todos os dias no trabalho.




Tem uma paciência de santa, ouve-me a berrar com o computador, a falar sozinha, e nunca interrompe.
À saída, se vamos às compras, condescende em ficar atulhada e contribuir para a preservação do planeta.
Já vai também a restaurantes, aos jantares de amigos e à saída de sexta-feira.
O conteúdo é variável e deve ser por isso que nunca se cansa. Há dias em que só carrega o livro e o remédio, noutros tem a felicidade de reencontrar as compras, noutros ainda, transporta delicadamente o portátil, e, mais vezes do que gostaria leva com menosprezo a papelada de reuniões ou trabalho.
Tal como os donos se começam a parecer com os seus cães, também eu estou a ficar irmã gémea da cesta. Rectangular e tudo. Com desenhos por fora.
Agora, meus amigos, eu e a cesta, a cesta e eu, somos tão inseparáveis como os Cinco da Enid Blyton. Talvez mais ainda, mesmo sem as aventuras.
Acho que vou propor a legalização deste casamento.

04/08/10
Leonor Raposo

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