domingo, dezembro 29, 2013

De António Alçada Baptista

"...
 Porque, sem dramatismos menores, a verdade é que a barbárie se instala e não vem dos tais invasores selvagens e cruéis. Vem do ritmo que imprimiram à nossa civilização, naquilo que introduziu na nossa vida quotidiana a racionalidade de um progresso e duma técnica que deixámos avançar incontrolados sem respeito pelas várias ecologias - as da terra e as da alma -, a destruir um tecido social cerzido por séculos e séculos de experiência do homem no seu diálogo com a natureza. Porque a verdade é que somos memória, que é como quem diz, tempo e história, e tudo isso é fruto de um corpo a corpo secular entre aquilo que temos por dentro e o mundo que encontrámos para exercitar a vida.
...
 Uma das saídas da massificação seria talvez a da cultura, que não é, obviamente, a cultura de massa. É a cultura no seu modelo clássico: uma mistura da educação, do saber e da sensibilidade, uma necessidade de conviver com o estético, acompanhado do conhecimento dos porquês do mundo e do sentido da vida, que é, em rigor, a missão da criação artística. Mas não creio que, para tudo isto, baste a vontade de cada um e a determinação dos políticos. Tudo terá que nascer da necessidade de responder à incomodidade colectiva e cujas respostas se exprimem já através duma sintomatologia diversificada e que tem que ver com o desejo de preservação da História através do património, da guarda da paisagem, dos costumes, da gastronomia, do folclore, da procura dos espaços, a recusa da uniformidade, da aproximação da natureza, enfim, de um conjunto de coisas que correspondem a nostalgias profundas, que o consumismo atento procura recuperar a seu favor.
...
 Não posso garantir que a redescoberta e a revalorização da terra, o respeito pela sua identidade, a sua diversidade e a sua história, sejam a panaceia que vai libertar o homem deste mundo cinzento em que vivemos, mas estou convencido de que, sem isso, será muito difícil readquirir uma postura que nos ponha em harmonia com aquilo que exige o mais profundo da nossa vocação individual, cultural, espiritual e cósmica.
 Reconhecermo-nos na história e na geografia da nossa terra, exigirmos o respeito pelas matrizes em que nascemos e vivemos, é um programa indispensável à nossa sobrevivência de seres libertos das modernas opressões e será, possivelmente, a única ponte de passagem para o futuro."

António Alçada Baptista in A Pesca à Linha - Algumas Memórias, Editorial Presença

quinta-feira, dezembro 19, 2013

Da Língua

Porque amanhã se vai discutir o futuro da Língua, aqui vos deixo algumas palavras, escritas antes ainda do anterior "acordo" de 1945, por quem melhor do que eu as sabia usar.

“Os Portugueses de boa lei dolorosamente sentem que dos grandes valores nacionais agora mais ultrajados, deve a Língua ser apontada como a primeira das vítimas, considerando que desrespeitá-la com culpa, é cometer pecado contra a própria alma da Pátria.”
“Na Língua se transmite todo o património espiritual dos antepassados, recebendo por ela os descendentes tão íntima e profunda herança que nem os mais desvairados e ingratos legatários a podem repudiar.” 
Hipólito Raposo - Oferenda

“Não é o idioma de um povo mercadoria que se lhe ponha à escolha para pegar ou deixar; històricamente associado o povo à formação da língua, ela é parte consubstancial do seu próprio ser.” 
Luis de Almeida Braga - Paixão e Graça da Terra

“A nossa língua é a obra-prima do espírito nacional, a criação para que todos os Portugueses uniram as almas durante séculos, harmònicamente, sem o desígnio, aliás impossível, de para isso entrarem em acôrdo…” 
“Aos nossos filhos deixemos, como melhor legado, depois dos ditames da moral e da honra, a língua portuguesa, viva, orgulhosa e incorrupta, para que a sua música não se dissolva no silêncio nebuloso dos séculos, mas seja eterna a sua voz de pensamento, a sua consolação de caridade, o seu frémito de paixão”.
Hipólito Raposo - Aula Régia


domingo, dezembro 01, 2013

Últimas BD lidas:

Os dois últimos volumes do "Les Tours de Bois-Maury". Segue-se Bois-Maury. Gosto muito do Hermann,
Os volumes 7 e 8 do Bouncer. Os desenhos e cores do Boucq são fantásticos...

domingo, novembro 10, 2013

Ainda Beja (Hipólito Raposo)

Beja sabe muito bem cantar e ninguém lhe ensinou. Em famosos acentos de exaltação, tristeza, saudade e amor, por estas noites de folguedo andam a cantar rapazes e cachopas ao ar livre, senhoras e criadas dentro de casa, trauteiam os garotos de recados e os engraxadores, entoam melancólicas lembranças os velhos, e pela sua débil voz, já riem e também sonham as crianças pobres da rua.
Na cidade de Beja, metrópole de zagais, não se assobia, canta-se colectivamente. Quando os coros a outros coros respondem, por este nocturno antifonário, parece que tomam voz as pedras e as árvores, os telhados e as muralhas, as praças e as vielas. Por voltas de acaso ou por impulsos de competição, todo o aglomerado urbano reboa de dominadoras polifonias que vão ouvindo e meditando os transeuntes silenciosos, enquanto do pálio dos altos céus choram luz as estrelas, talvez por não saberem cantar…
Por estas noites de tradicional expansão, em que na fé do povo esquecidas vão as virtudes dos Santos do calendário, das fogueiras se levanta em perfumes de hortelã, funcho e mentrasto, a mais funda e saudável respiração da terra. Sucedem-se em desfile regular os grupos corais para demonstração e provas de um exame em que se pode ganhar o prémio e o louvor dos entendidos, já pela cidade todos dispersos, ocultos, a escutar…
Cinco, seis formações de vinte cantores, vão surgindo de uma esquina por sua ordem, detêm-se nas praças, enchem de ecos as ruas caladas e absortas. Depois, andam, desandam vagueiam pela noitada até aos alvores do sol-nado, levando após eles devotos, curiosos ou admiradores.
Ao mesmo tempo, o povo cuidadosamente os ouve e julga, alinhado em renques de multidão respeitosa, auditório de mulheredo e de morenos rurais, aqui uns de manta e vara, acolá outros de pelico e safões bem lanudos e encorreados.
E a segui-los, sèriamente, embevecidamente, todos os olhos de essa gente do Sul, extáticos e saudosos da distância, pasmados na avidez dos longes, olhos firmes e dilatados, como luzeiros de alma, à espera desde o primeiro princípio, sempre à espera da hora de vencer os ilimitados limites do Além…
Nas vozes destes músicos iletrados que de dia são pastores, ganhões, homens de ofício e caixeiros, ouvem-se redondilhas de poetas de talento e sem nome, loas votivas ou hinos à sua amada terra em que sempre vibra o velho orgulho alentejano:
De Pax Julia fui Beja,
Minha nobreza é antiga,
E às outras causa inveja
       O bem que de mim se diga…
Em estrofes bem rimadas, desafogam-se mágoas, exaltam-se sentimentos colectivos ou gemem-se queixas de amor, que a música às vezes desmente, sem qualquer cerimónia nem reparo dos ouvintes…
Os cantadores vão-nos levando com eles para altitudes de entusiasmo ou para zonas de pura comoção humana. 
…corais espontâneos, geralmente constituídos por homens, alguns outros mistos, neles entrando quatro ou cinco raparigas, com vozes de maviosa clareza e suavidade.
...
Ninguém sabe como nasceram, onde se inspiraram, que escola tiveram estes aedo-campaniços que um rapsodo guia, dando o ponto, a dialogar com o coro ou a fundir-se nele em harmoniosa orquestração.
Em filas ordenadas se deslocam, enlaçados pelos braços uns dos outros, para constituir solidário volume de órgão vivo, movendo-se com lentidão mais que alentejana, de olhos fechados os de maior transporte, para deixarem subir as almas harmonizadas até aos balcões dos castelos das nuvens e das estrelas.
Solene, respeitoso, ritual, é o andamento na rua, em que as filas de balançam de lado a lado, com o mais vagaroso compasso.
Os pés deslocam-se a oscilar em esboços coreográficos, como se por obediência a remota inspiração, uma dança litúrgica se fosse ali executando para subir em pomposa solenidade, a grande nave de uma catedral.
A qualquer conclusão a que chegue o investigador pelo caminho da verdade, por análises e confrontos essenciais, não comecem a dar mestres de Música aos cantores rurais de Beja nem os queiram eles aceitar, a título de aperfeiçoamento, para não vir a perverter-se a espontaneidade, a sinceridade das suas modas, o religioso e agreste encanto do seu Canto.

Junho-944 – Beja Cantadora Hipólito Raposo in Oferenda 

sábado, novembro 09, 2013

Da costura

Olhei para o sítio específico da “roupa para coser” e suspirei. O pequeno monte tinha-se tornado montanha, precisava de alpinista. Lá teve de ser. Uma escalada de agulha e linha na mão.
Quem me conhece de pequena sabe da minha falta de jeito para tudo o que seja manual. Sabem destas mãos desastradas.
Até ao 5º ano (actual 9º) tínhamos as disciplinas de Desenho e Trabalhos Manuais (para as meninas eram afinal lavores). Era dada nota por cada uma mas depois contava a média como se fosse apenas uma. Sucede que nada do que fazia resultava, quer a uma quer a outra.
A Desenho, especialmente o geométrico, depois de extenuante esforço com o compasso, régua e esquadro, para produzir qualquer coisa aceitável (sempre era melhor que o desenho livre!) temia o tira-linhas e a tinta. Todo o trabalho anterior ficava oculto debaixo dos borrões, o que era uma injustiça mas ninguém entendia. Isto para não falar de nem com a régua conseguir desenhar uma recta que fosse recta. Eram sempre rectas especiais. À minha maneira.
A Lavores ficou célebre a minha “roseta” de crochet num teste, porque mais parecia uma miniatura de boina. Esquecera-me de acrescentar qualquer coisa a cada fila. O tal enxoval de bebé, para o qual fazíamos uma ou duas peças por ano, teve sempre de ser acabado pela professora (odiosa, diga-se) e acredito que ainda tivesse de desmanchar a minha parca e deficiente produção.
Estas mãos de bruxa, porque de fada não eram, davam pois direito a negativa negativíssima.
No colégio acabavam por ter pena de mim, sempre com boas notas nas outras disciplinas e um desastre naquelas. Assim, as duas notas eram “levantadas” para que não chumbasse. Lá estavam, bem a encarnado na caderneta, para que soubesse do “levantamento”, o 9 a Desenho e o 10 a Trabalhos Manuais, ou vice-versa consoante os anos.
Hoje sei que parte do desastre tinha a ver com ser canhota. Não me adaptava aos instrumentos…

Por isso, sinto que em cada botão pregado, em cada bainha feita, em cada passajar de meias, em cada buraco cosido, por pior que fiquem, por mais tortos os pontos, estou a subir aquelas notas a encarnado. Nunca hei-de chegar ao 20, mas não preciso.

quarta-feira, outubro 16, 2013

Inquietude


Ó coração inquieto, deixa-me!
Se nem o eco me responde,
Porque hei-de esperar?

Ó vã esperança, larga-me!
Se nem o vento me ouve,
Porque hei-de sonhar?

Lancinante é o grito da incerteza.
Impaciente, o balanço da angústia.

Um gesto e parava o tempo.


segunda-feira, outubro 14, 2013

Beja - Hipólito Raposo


Uma das leituras deste Verão foi o "Oferenda" do avô Hipólito Raposo e um dos textos que mais gostei é sobre Beja, cidade que não conhecia.
Ora este fim-de-semana que passou calhou lá ir, a um evento da Real Associação do Baixo Alentejo.
Claro que levei o livro e reli o texto, que é de uma beleza ... Não resisto a pôr aqui um excerto, agora que conheço um pouco a cidade. 
Hoje é sobre a torre. Um outro dia, será a vez da parte que fala do cante alentejano.

“…
Ainda de longe, como se Beja fôra galeão a flutuar no oceano das idades e das planuras, a torre de menagem do Rei-Trovador serve há séculos de mastro grande para a Bandeira.
Na sua gávea de pedra, ficou a morar espiritualmente, solerte arauto de portugalidade, tão alto e de mirada tão longa que se mede com a imensidão do horizonte, para ser ouvido por todos os ossos sepultados na terra e pelas almas debruçadas dos céus de Portugal.
Torre de almenara e defesa, se por ela subimos, bem compreendemos a ameaça severa e solene do seu musguento prisma onde os antigos guardaram a herança do Lidador, para lição e exemplo de todos os lidadores da honra e glória da lusitana antiga liberdade.
Dos seus airosos balcões e do eirado que cobre a última das três abóbadas, vê-se desenrolar ou apenas se adivinha pelo desnível, a cinta das velhas muralhas de quarenta torres, lobrigando-se para além, abrumadas pela tremulina, as terras de Alvito, da Vidigueira, de Cuba, Serpa, Moura, Aljustrel, essas nobres vilas do alfoz de Beja, olvidadas e sonâmbulas. E quanto mais os olhos cursam em redor, para muito mais a distância interminàvelmente se amplia, como se nos cuidados de talhar e aprumar as reluzentes cantarias de São Brissos, no Rei e nos mestres de pedraria houvesse o impossível desígnio de alcançar e vencer o horizonte de toda a terra transtagana.
Alta, esbelta e nobre, com traços de lavor amoiriscado a dar graça à força, a torre do castelo de Beja, irmã das de Bragança e de Estremoz nos intentos, princesa de muitas outras na robustez e raínha de todas na vastidão dos domínios, é o orgulho heráldico da cidade e a mais importante das suas celebradas grandezas.”

Junho-944 – Beja Cantadora - Hipólito Raposo in Oferenda 

segunda-feira, setembro 30, 2013

Embarque

Vem comigo!
Espero-te no cais junto à nau.
Só nós dois.
De ventos e rosa nas mãos,
Sulcaremos o mar de nossos avós,
Atlântico abaixo,
Índico acima,
Pacífico adentro,
até nos perdermos,
ou nos acharmos.

30 de Setembro de 2013

A 4 mãos

segunda-feira, agosto 26, 2013

A Morte de um Homem por António Alçada Baptista


Venho do cemitério de Degracia onde ficou Hipólito Raposo. Apossado da evocação forte da sua figura forte regresso a Lisboa com pancadas de sabor “shakesperiano” na mente:
          Este era um Homem. Outros serão mais agradáveis ou mais astuciosos e por isso agradarão ao mundo. Mas este era um Homem…

E não é só a tristeza sentimental da muita amizade que tenho por um dos seus filhos. É sobretudo a cortante angústia da minha condição de homem, de homem do século XX, que uma a uma vê cair lições de honrosa verticalidade.
Muitos se impressionarão com o cessar da sua doutrinação. Outros lamentarão a paragem da sua pena, da sua escrita de mármore. Alguns condescenderão em chamar-lhe inteligente. Haverá aqueles que se entreolharão com alívio limpando nos olhos filisteus lágrimas de saudade falsa.
Tudo isso me parece pouco perante o que significa o ter passado mais um dos poucos Homens que restavam.
Põe-me o meu cepticismo político em extraordinário à vontade para falar deixando de parte uma paixão que não conheço.
O azul e o branco, o verde e o vermelho passam-me despercebidos perante qualquer que mostre a marca da nossa condição de filhos de Deus. E mais que as lições das fórmulas, dos principiozinhos ou dos sistemas, precisa a nossa geração das lições da Honra.
Queixam-se os povos da míngua dos “stocks”. Querem matérias-primas e chamam pelos cambiais. E amealham o ouro e os tesouros.
Não reparam como estão vazias a reservas da honra. E é aqui que eu agradeço a Hipólito Raposo a grande lição que nos deu.
Acabaram-se os signos do zodíaco. O 1º de Janeiro e por aí adiante, todos os dias tão iguais até ao 31 de Dezembro. Todos sob o signo das coisas, das fórmulas e das consciências fáceis. Signo do dinheiro fácil, da honra que deixou a rigidez da Honra para se adaptar mole e flácida às exigências da comida ou da ambição.
Há uma geração que veio ao mundo nesse signo – e essa é a minha…
Caímos rodeados de uma ideia de se ser alguém que outros atrás não conheciam. E assistimos à escalada avassaladora dos que se impõem e que se apontam ao mundo em exemplos de “novas” virtudes cívicas.
E a todos nós percorre a tentação…
E a consciência quer actualizar-se…
É quando a figura de Hipólito Raposo surge e nos segura.
É quando aparece o Homem para quem o dever era estrada dura de sacrifício. Conheceu o mundo e nele viveu e nunca se tentou…
Coberto pela bandeira do Integralismo Lusitano, a mesma que cobria António Sardinha, Hipólito Raposo seguiu da capela da sua quinta.
A rodeá-lo os seu amigos fiéis: Monsaraz, Pequito Rebelo, Luís Almeida Braga, Semião Pinto de Mesquita, Luís Cabral de Moncada, D. José Ferrão.
Depois Fernando Amado, a representar os poucos de uma geração que se perdeu.
A seguir meia dúzia de novos que quiseram receber mais uma lição.
Finalmente o povo, mulheres do campo, homens do campo, em alas abertas, com velas acesas e máscaras de tragédia…
Hipólito Raposo ficou no cemitério de Degracia, no cimo do outeiro, rodeado de eucaliptos e pinheirais.
Ao viandante deve dizer-se: Ele está ali.
E este era um Homem. Outros foram mais agradáveis ou mais astuciosos e por isso agradaram ao mundo. Mas este era um Homem.

Lisboa, 28-08-53

ANTÓNIO ALÇADA BAPTISTA in revista Cidade Nova

Nota: O avô José Hipólito Raposo morreu a 26/08/53, passando hoje 60 anos sobre a sua morte. No mesmo dia, em 1974, morria o seu filho mais velho, João. 

Recomeço?

Este blogue está a ficar uma seca. Só ligações para o que escrevo noutro blogue.

Não é nada como o imaginava.

Queria um blogue bonito.

Só fotografias lindíssimas, boa música e palavras, essencialmente de outros.

O Belo.

Tenho de ocupar esta casa ilegalmente. Não gosto quando não é belo.

domingo, maio 26, 2013

A espera

Demoras!
E na demora,
Ao sol de Ítaca
Vai Penélope tecendo,
Linha a linha,
Tua face no tear.

Ainda demoras!
E na demora,
Ao luar de Ítaca
Vai Penélope desfiando,
Linha a linha,
Tua face no tear.

Mas demoras!
E na demora,
Levou o tempo memórias.
Linha a linha
Penélope vai tecendo
Outra face no tear.
Mas eterno permanece o olhar.

Poema a quatro mãos
Maio de 2013

segunda-feira, abril 22, 2013

segunda-feira, abril 01, 2013

Círculo

Em círculos, às vezes em elipses, não saio dali.
Uma vez por outra caminho pelo raio, em passos milimétricos, e depois completo todo o perímetro a passo de corrida. Sempre 2πr. Sem falhas.
Saindo do raio, a área à disposição tem o horizonte πr^2 . Como se não soubesse. Uma combinação perfeita de π, raio e o número dois. Bonita, mas sufocante. Já chega. Quero sair.
Nunca disse, mas já fui espreitar lá fora. O mundo dos triângulos e o dos quadriláteros. Igualmente interessantes, não tão bonitos mas mais do mesmo, com outros perímetros e outras áreas.
Quero um mundo sem perímetros. De áreas infinitas.
Arranjo um mapa e fujo.



sexta-feira, março 29, 2013

Ecce Homo

Há-de ser sempre este. 



Do Museu Nacional de Arte Antiga: http://mnaa.imc-ip.pt/pt-PT/exposicao%20permanente/outras%20obras%20essenciais/ContentDetail.aspx?id=141

sexta-feira, março 22, 2013

Da Europa (3)

O dia 60 no Eternas Saudades do Futuro:

http://do-futuro.blogspot.pt/2013/03/carteira-de-senhora_22.html

sexta-feira, março 15, 2013

Das redes sociais

O dia 59 no Eternas Saudades do Futuro

http://do-futuro.blogspot.pt/2013/03/carteira-de-senhora_15.html

sexta-feira, março 01, 2013

Receita

O dia 57 no Eternas Saudades do Futuro

http://do-futuro.blogspot.pt/2013/03/carteira-de-senhora.html

sexta-feira, fevereiro 15, 2013

Voo


Se me negas as asas,
terei de voar sozinha.
Não tenho medo, toma nota.
Teria se não fosse capaz.
Espera o amanhecer e verás
num qualquer azul,
tão azul
que rebentará em estrelas,
o Voo. 
Picado primeiro,
depois manso no baloiço das brisas.
Não volto.

15/02/13



Do Papa

O dia 55 no Eternas Saudades do Futuro

http://do-futuro.blogspot.pt/2013/02/carteira-de-senhora_15.html

quarta-feira, janeiro 30, 2013

Última carta à minha ex-operadora de telecomunicações


Ex-Cliente nº ....
V/Ref. ......
Lisboa, 29 de Janeiro de 2013

Exmo. Senhor xxxxxxx,

Tendo recebido a s/carta de 23/01/13 ontem dia 28, percebi que deseja ardentemente manter correspondência com a minha pessoa, e eu, entusiasmada com essa demonstração carinhosa, não posso deixar de responder. Sendo a terceira vez que escrevo, o namoro corre sérios riscos de se tornar noivado. Aliás fiquei muitíssimo bem impressionada pelo facto de não ter sido aplicado nessa carta um tal de “acordo” que considero abjecto.

Podia utilizar a já célebre expressão de uma grande senhora entretanto falecida, “Você sabe que eu sei que você sabe que eu sei”, mas nem é preciso.

Em s/poder tem o original (e no meu a cópia) do comprovativo do envio e recepção do fax enviado a 14/12/12, com a denúncia do contrato e todos os documentos necessários. Terminou pois o contrato a 31/12/12, e não a 31/01/13, como tão insistentemente quer fazer crer. Por isso, estou a considerar essa extensão uma liberalidade vossa, muito simpática, aliás.

Aguardo que façam a recolha do equipamento, porquanto há um cabo instalado pelos vossos serviços que não consigo retirar sem o cortar, e se há coisa que não pretendo é danificar seja o que for. Estragaria a nossa relação.

Também apreciei a última parte da carta, em que simpaticamente se põe à minha disposição todos os dias, 24 horas por dia, através de uns “contactos indicados abaixo”, mas fiquei desiludida porquanto parece que os tais contactos afinal não querem ser contactados e fugiram do papel.

Com os melhores cumprimentos,

Leonor Martins de Carvalho

sexta-feira, janeiro 25, 2013

Um ano de crónicas

O dia 52 no Eterna Saudades do Futuro

http://do-futuro.blogspot.pt/2013/01/carteira-de-senhora_25.html

sexta-feira, janeiro 18, 2013

De Lisboa

O dia 51 no Eternas Saudades do Futuro

http://do-futuro.blogspot.pt/2013/01/carteira-de-senhora_18.html

sexta-feira, janeiro 11, 2013

Da mudança de nomes

O dia 50 no Eternas Saudades de Futuro

http://do-futuro.blogspot.pt/2013/01/carteira-de-senhora_11.html