quarta-feira, outubro 16, 2013

Inquietude


Ó coração inquieto, deixa-me!
Se nem o eco me responde,
Porque hei-de esperar?

Ó vã esperança, larga-me!
Se nem o vento me ouve,
Porque hei-de sonhar?

Lancinante é o grito da incerteza.
Impaciente, o balanço da angústia.

Um gesto e parava o tempo.


segunda-feira, outubro 14, 2013

Beja - Hipólito Raposo


Uma das leituras deste Verão foi o "Oferenda" do avô Hipólito Raposo e um dos textos que mais gostei é sobre Beja, cidade que não conhecia.
Ora este fim-de-semana que passou calhou lá ir, a um evento da Real Associação do Baixo Alentejo.
Claro que levei o livro e reli o texto, que é de uma beleza ... Não resisto a pôr aqui um excerto, agora que conheço um pouco a cidade. 
Hoje é sobre a torre. Um outro dia, será a vez da parte que fala do cante alentejano.

“…
Ainda de longe, como se Beja fôra galeão a flutuar no oceano das idades e das planuras, a torre de menagem do Rei-Trovador serve há séculos de mastro grande para a Bandeira.
Na sua gávea de pedra, ficou a morar espiritualmente, solerte arauto de portugalidade, tão alto e de mirada tão longa que se mede com a imensidão do horizonte, para ser ouvido por todos os ossos sepultados na terra e pelas almas debruçadas dos céus de Portugal.
Torre de almenara e defesa, se por ela subimos, bem compreendemos a ameaça severa e solene do seu musguento prisma onde os antigos guardaram a herança do Lidador, para lição e exemplo de todos os lidadores da honra e glória da lusitana antiga liberdade.
Dos seus airosos balcões e do eirado que cobre a última das três abóbadas, vê-se desenrolar ou apenas se adivinha pelo desnível, a cinta das velhas muralhas de quarenta torres, lobrigando-se para além, abrumadas pela tremulina, as terras de Alvito, da Vidigueira, de Cuba, Serpa, Moura, Aljustrel, essas nobres vilas do alfoz de Beja, olvidadas e sonâmbulas. E quanto mais os olhos cursam em redor, para muito mais a distância interminàvelmente se amplia, como se nos cuidados de talhar e aprumar as reluzentes cantarias de São Brissos, no Rei e nos mestres de pedraria houvesse o impossível desígnio de alcançar e vencer o horizonte de toda a terra transtagana.
Alta, esbelta e nobre, com traços de lavor amoiriscado a dar graça à força, a torre do castelo de Beja, irmã das de Bragança e de Estremoz nos intentos, princesa de muitas outras na robustez e raínha de todas na vastidão dos domínios, é o orgulho heráldico da cidade e a mais importante das suas celebradas grandezas.”

Junho-944 – Beja Cantadora - Hipólito Raposo in Oferenda