sexta-feira, janeiro 01, 2016

Embarque


Chegou de mansinho,
Num qualquer dia,
Num qualquer cais,
Um barco. O barco.
Único numa floresta de mastros.
A brilhar de tão novo, ansioso por crescer e ser,
Ou veleiro antigo, contador de História e histórias.
Certo é não termos rosa-dos-ventos.
Sem porquês, embarcamos.
Embarco.
Que o mar nos seja propício
Que as nossas mãos amainem ventos
Que todos os portos sejam nossos.
Bem em cima da linha do horizonte
Deixaremos o nosso padrão.

Leonor Raposo
Somewhere em Dezembro de 2015

quinta-feira, outubro 01, 2015

Frágil

Sem ninguém o ter invocado,
Galopa em mim um medo insano.
Medo de te tocar.
Que ao tocar-te, te quebres...
Que cada pedaço do teu quebrar
Quebre cada pedaço do meu.

01/10/15

segunda-feira, dezembro 08, 2014

CARTA ABERTA AO SR. ANTÓNIO COSTA (aos vereadores da câmara municipal de Lisboa e aos deputados municipais)

Estou numa revolta tal que se me põe o estômago em brasa, o coração em alta velocidade e os olhos lacrimejantes. Dir-me-á que há coisas piores que também me deviam revoltar, e revoltam, mas hoje é esta.

Já há uns tempos que ando para escrever sobre este assunto, avisei até nessa coisa chamada facebook, mas sendo a revolta grande pensei que me teria de acalmar para não sair disparate e porque até talvez não se viesse a concretizar a ideia.

Falo, é claro, da proibição de circulação em Lisboa de carros anteriores a 2000 e 1996, em diferentes circunstâncias.

Não me venha com a história de que vou falar de casos pessoais, pois todos os que têm carro anterior àquelas datas são casos pessoais, muitos deles iguais ao meu. Quem tem carros mais novos terá a sua história, com certeza mais brilhante que a nossa. Ainda bem que todos vocês têm carros novos, significa que ganharam bem, mas chego à conclusão de que não conhecem os lisboetas, o que é grave.

Nasci em Lisboa, vivo em Lisboa, pago todos os impostos e taxas que revertem a favor da Câmara. Penso que tenho direito a tratamento de tapete encarnado, como todos os lisboetas nas mesmas circunstâncias (pensava mal, pelos vistos!).

O meu bólide (poderá chamar-lhe carcaça se o entender) vai fazer dezanove anos no próximo mês. Nunca tive dinheiro, desde que o comprei, para adquirir um novo. Estou a tentar comprar um carro usado, mas penso que só consigo adiantar uns dois anos à idade do meu actual.

Ando há mais de dez anos em transportes públicos ou de táxi. A maior prova disso é a quilometragem do dito bólide (ou carcaça) após estes dezanove anos ao meu serviço: pouco mais de 122.000 quilómetros.

Neste momento sou a única da família chegada que até tem carro. Se quiser mostrar à minha mãe (outra sua munícipe que por razões de saúde já não anda) a sua (do Sr. António Costa) tão preciosa Ribeira das Naus, não posso. Teria de a meter no Metro, calculo. Não acredito que nenhum dos senhores em consciência (e têm-na?) o fizesse à sua própria mãe.

Não quero saber se isto é por causa da poluição e multas da Comissão Europeia. Seja criativo, é essa a sua obrigação, foi para isso que o elegeram, não para escolher os caminhos fáceis das proibições. Converse com as empresas de transporte e subsidie mais percursos, converse com os presidentes de câmara à volta da cidade, envergonhe quem só anda de carro, sei lá, tudo menos proibir os munícipes de mais baixos rendimentos de poderem atravessar Lisboa nem que seja uma vez no ano. Há muitos argumentos e alternativas contra esta aberração, mas uma cabeça quente não chega para tudo.

Não vou ligar à proibição e juro que se for multada nas pouquíssimas vezes em que andar de carro em Lisboa (será já no Natal?), se puder levo o caso a um qualquer tribunal português, europeu ou mundial este atropelo injusto e vergonhoso num momento de crise como este.

Se o Sr. trata assim os seus munícipes, facilmente se calcula como tratará os portugueses se chegar a cargo mais alto. Comigo não conte.

terça-feira, setembro 09, 2014

Pescarias ego quoque

"....
Já não há bárbaros, Faulques. Estão todos cá dentro. E nem sequer há ruínas como as de antigamente, acrescentaria mais tarde, em Osijek, enquanto fotografava uma casa cuja fachada desaparecera sob uma bomba e que, atrás dos escombros amontoados na rua, mostrava, ainda de pé, a quadrícula íntima dos quartos com móveis, utensílios domésticos e fotografias familiares dependuradas nas paredes. Noutro tempo, disse - deslocava-se com precaução entre os pedaços de betão e os ferros retorcidos, com a máquina fotográfica perto da cara, procurando o enquadramento perfeito -, as ruínas eram indestrutíveis. Não achas? Ficavam aí séculos e séculos, embora as pessoas usassem as pedras nas suas casas e os mármores nos seus palácios. E depois apareciam Hubert Robert ou Magnasco com o seu cavalete, e pintavam-nas. Agora não é assim. Repara nisto. O nosso mundo fabrica escombros em vez de ruínas e, assim que pode, lança-lhes um bulldozer e fá-los desaparecer, disposto a esquecer. As ruínas incomodam, importunam. E, claro, sem livros de pedra para ler o futuro, vemo-nos de repente na margem, com um pé na barca e sem moeda no bolso para Caronte."

Arturo Pérez-Reverte em O Pintor de Batalhas 
Edições Asa - Tradução de Helena Pitta

Pescarias ego quoque

"...
O grupo de cavaleiros ficava agora completo, faltando alguns retoques que seriam dados mais à frente. Sobre as suas cabeças, no ponto de fuga previsto entre eles e o cavaleiro que investia solitário contra o bosque de lanças inimigas, erguia-se - erguer-se-iam quando fosssem mais que traços esquemáticos a carvão - as torres de Manhattan, Hong-Kong, Londres ou Madrid; qualquer cidade das muitas que viviam confiantes no poder dos seus colossos arrogantes: um bosque de edifícios modernos, inteligentes, habitados por seres seguros da sua juventude, beleza e imortalidade, convencidos de que a dor e a morte podiam manter-se à distância com a tecla enter de um computador. Ignorando, todos eles, que inventar um objecto técnico era inventar o seu acidente específico, da mesma forma que a criação do universo, desde o momento da nucleossíntese primordial, trazia implícita a palavra catástrofe. Por isso a história da Humanidade era tão sortida de torres feitas para serem evacuadas em quatro ou cinco horas, mas que só resistiam à acção de um incêndio durante duas, e de Titanics impávidos, insubmergíveis, à espera do bocado de gelo disposto pelo Caos no ponto exacto da sua carta náutica."

Arturo Pérez-Reverte em O Pintor de Batalhas 
Edições Asa - Tradução de Helena Pitta

quarta-feira, agosto 27, 2014

Velha

Só te lembras dos nomes à décima vez,
Só acertas com a linha na agulha à vigésima vez,
Mas ainda podes ler, rir e amar cem vezes, sem vez.

Leonor Raposo

Eco

Uma palavra basta,
que o diga o eco.
Sésamo revela tesouros,
experimenta outra.
Tu sabes.
Sempre soubeste.
És eco.

Leonor Raposo

sexta-feira, agosto 15, 2014

Nos 50 anos da morte do Pai

Se a vida política é convívio de homens, tem de os aceitar como são – com ideias, com interesses, com opiniões, com reflexos distintos.
Uns, como os fascistas, esperam criar ideias uniformes e acabam contentando-se com meros reflexos, condicionados por uma propaganda eficaz. Outros, como os democráticos, satisfazem-se com a variedade de opiniões, servidas ao pequeno almoço com o diário do partido.
Já vimos os resultados práticos destes sistemas.
Quer-nos parecer que o grande erro está em considerar o “homem político” como apenas dotado de opiniões ideológicas, quando há que o entender na sua integridade – dotado de opiniões, sem dúvida, mas com interesses reais e reais razões.
As razões podem discutir-se; os interesses podem harmonizar-se; só as opiniões se chocam ou se esmagam.
A nosso ver há que procurar que a vida política reflicta adequadamente as várias razões e os vários interesses de todos os portugueses, e que ao debater aquelas e ao acomodar estes, os portugueses sejam naturalmente levados a encontrar-se, por cima dos seus reflexos de proletário ou de visconde, para além das suas opiniões sobre a Reforma Agrária ou a nacionalização da C.U.F.
Este objectivo – a nossos olhos, o objectivo de toda a política autênticamente portuguesa – poderá porventura tentar-se em moldes partidários; só apesar deles se poderá conseguir.
Para tanto, seria necessário um grau de progresso económico, social e cívico, que se se terá alcançado na Suíça ou no Canadá, falta ainda à Itália e à França. E quem poderá afirmar que ultrapassámos todos os latinos em amor do real, em tolerância de espírito, em largueza de vistas?
Deverão ser as próprias formas da vida política nacional quem naturalmente neutralize a virulência das lutas ideológicas, sem coarctar a liberdade e a fecundidade da convivência dos portugueses.
Importa portanto que a Representação Nacional espelhe, não tanto as opiniões que dividem e os partidos que partem, mas as razões que se escutam e os interesses que se integram.

Rivera Martins de Carvalho
Excerto do texto “Esboço para um plano de trabalho” redigido por RMC mas publicado sob a responsabilidade da 1ª Comissão Executiva do Instituto António Sardinha: Manoel Galvão, Gastão da Cunha Ferreira, Henrique Barrilaro Ruas, Fernando Calheiros Vellozo e Rivera Martins de Carvalho e republicado em “Diário Político e outras páginas”, Biblioteca do Pensamento Político, 1971


quinta-feira, julho 10, 2014

Pescarias ego quoque

"Agora examinava atentamente as imagens do mural, franzindo o sobrolho.
- Também fazem parte das suas recordações as guerras antigas?... Tróia e sítios assim?
Foi a vez de Faulques esboçar um ligeiro sorriso.
- É disso que se trata. Os sítios assim são sempre o mesmo sítio."

Arturo Pérez-Reverte em O Pintor de Batalhas
Edições Asa - Tradução de Helena Pitta

domingo, dezembro 29, 2013

De António Alçada Baptista

"...
 Porque, sem dramatismos menores, a verdade é que a barbárie se instala e não vem dos tais invasores selvagens e cruéis. Vem do ritmo que imprimiram à nossa civilização, naquilo que introduziu na nossa vida quotidiana a racionalidade de um progresso e duma técnica que deixámos avançar incontrolados sem respeito pelas várias ecologias - as da terra e as da alma -, a destruir um tecido social cerzido por séculos e séculos de experiência do homem no seu diálogo com a natureza. Porque a verdade é que somos memória, que é como quem diz, tempo e história, e tudo isso é fruto de um corpo a corpo secular entre aquilo que temos por dentro e o mundo que encontrámos para exercitar a vida.
...
 Uma das saídas da massificação seria talvez a da cultura, que não é, obviamente, a cultura de massa. É a cultura no seu modelo clássico: uma mistura da educação, do saber e da sensibilidade, uma necessidade de conviver com o estético, acompanhado do conhecimento dos porquês do mundo e do sentido da vida, que é, em rigor, a missão da criação artística. Mas não creio que, para tudo isto, baste a vontade de cada um e a determinação dos políticos. Tudo terá que nascer da necessidade de responder à incomodidade colectiva e cujas respostas se exprimem já através duma sintomatologia diversificada e que tem que ver com o desejo de preservação da História através do património, da guarda da paisagem, dos costumes, da gastronomia, do folclore, da procura dos espaços, a recusa da uniformidade, da aproximação da natureza, enfim, de um conjunto de coisas que correspondem a nostalgias profundas, que o consumismo atento procura recuperar a seu favor.
...
 Não posso garantir que a redescoberta e a revalorização da terra, o respeito pela sua identidade, a sua diversidade e a sua história, sejam a panaceia que vai libertar o homem deste mundo cinzento em que vivemos, mas estou convencido de que, sem isso, será muito difícil readquirir uma postura que nos ponha em harmonia com aquilo que exige o mais profundo da nossa vocação individual, cultural, espiritual e cósmica.
 Reconhecermo-nos na história e na geografia da nossa terra, exigirmos o respeito pelas matrizes em que nascemos e vivemos, é um programa indispensável à nossa sobrevivência de seres libertos das modernas opressões e será, possivelmente, a única ponte de passagem para o futuro."

António Alçada Baptista in A Pesca à Linha - Algumas Memórias, Editorial Presença

quinta-feira, dezembro 19, 2013

Da Língua

Porque amanhã se vai discutir o futuro da Língua, aqui vos deixo algumas palavras, escritas antes ainda do anterior "acordo" de 1945, por quem melhor do que eu as sabia usar.

“Os Portugueses de boa lei dolorosamente sentem que dos grandes valores nacionais agora mais ultrajados, deve a Língua ser apontada como a primeira das vítimas, considerando que desrespeitá-la com culpa, é cometer pecado contra a própria alma da Pátria.”
“Na Língua se transmite todo o património espiritual dos antepassados, recebendo por ela os descendentes tão íntima e profunda herança que nem os mais desvairados e ingratos legatários a podem repudiar.” 
Hipólito Raposo - Oferenda

“Não é o idioma de um povo mercadoria que se lhe ponha à escolha para pegar ou deixar; històricamente associado o povo à formação da língua, ela é parte consubstancial do seu próprio ser.” 
Luis de Almeida Braga - Paixão e Graça da Terra

“A nossa língua é a obra-prima do espírito nacional, a criação para que todos os Portugueses uniram as almas durante séculos, harmònicamente, sem o desígnio, aliás impossível, de para isso entrarem em acôrdo…” 
“Aos nossos filhos deixemos, como melhor legado, depois dos ditames da moral e da honra, a língua portuguesa, viva, orgulhosa e incorrupta, para que a sua música não se dissolva no silêncio nebuloso dos séculos, mas seja eterna a sua voz de pensamento, a sua consolação de caridade, o seu frémito de paixão”.
Hipólito Raposo - Aula Régia


domingo, dezembro 01, 2013

Últimas BD lidas:

Os dois últimos volumes do "Les Tours de Bois-Maury". Segue-se Bois-Maury. Gosto muito do Hermann,
Os volumes 7 e 8 do Bouncer. Os desenhos e cores do Boucq são fantásticos...

domingo, novembro 10, 2013

Ainda Beja (Hipólito Raposo)

Beja sabe muito bem cantar e ninguém lhe ensinou. Em famosos acentos de exaltação, tristeza, saudade e amor, por estas noites de folguedo andam a cantar rapazes e cachopas ao ar livre, senhoras e criadas dentro de casa, trauteiam os garotos de recados e os engraxadores, entoam melancólicas lembranças os velhos, e pela sua débil voz, já riem e também sonham as crianças pobres da rua.
Na cidade de Beja, metrópole de zagais, não se assobia, canta-se colectivamente. Quando os coros a outros coros respondem, por este nocturno antifonário, parece que tomam voz as pedras e as árvores, os telhados e as muralhas, as praças e as vielas. Por voltas de acaso ou por impulsos de competição, todo o aglomerado urbano reboa de dominadoras polifonias que vão ouvindo e meditando os transeuntes silenciosos, enquanto do pálio dos altos céus choram luz as estrelas, talvez por não saberem cantar…
Por estas noites de tradicional expansão, em que na fé do povo esquecidas vão as virtudes dos Santos do calendário, das fogueiras se levanta em perfumes de hortelã, funcho e mentrasto, a mais funda e saudável respiração da terra. Sucedem-se em desfile regular os grupos corais para demonstração e provas de um exame em que se pode ganhar o prémio e o louvor dos entendidos, já pela cidade todos dispersos, ocultos, a escutar…
Cinco, seis formações de vinte cantores, vão surgindo de uma esquina por sua ordem, detêm-se nas praças, enchem de ecos as ruas caladas e absortas. Depois, andam, desandam vagueiam pela noitada até aos alvores do sol-nado, levando após eles devotos, curiosos ou admiradores.
Ao mesmo tempo, o povo cuidadosamente os ouve e julga, alinhado em renques de multidão respeitosa, auditório de mulheredo e de morenos rurais, aqui uns de manta e vara, acolá outros de pelico e safões bem lanudos e encorreados.
E a segui-los, sèriamente, embevecidamente, todos os olhos de essa gente do Sul, extáticos e saudosos da distância, pasmados na avidez dos longes, olhos firmes e dilatados, como luzeiros de alma, à espera desde o primeiro princípio, sempre à espera da hora de vencer os ilimitados limites do Além…
Nas vozes destes músicos iletrados que de dia são pastores, ganhões, homens de ofício e caixeiros, ouvem-se redondilhas de poetas de talento e sem nome, loas votivas ou hinos à sua amada terra em que sempre vibra o velho orgulho alentejano:
De Pax Julia fui Beja,
Minha nobreza é antiga,
E às outras causa inveja
       O bem que de mim se diga…
Em estrofes bem rimadas, desafogam-se mágoas, exaltam-se sentimentos colectivos ou gemem-se queixas de amor, que a música às vezes desmente, sem qualquer cerimónia nem reparo dos ouvintes…
Os cantadores vão-nos levando com eles para altitudes de entusiasmo ou para zonas de pura comoção humana. 
…corais espontâneos, geralmente constituídos por homens, alguns outros mistos, neles entrando quatro ou cinco raparigas, com vozes de maviosa clareza e suavidade.
...
Ninguém sabe como nasceram, onde se inspiraram, que escola tiveram estes aedo-campaniços que um rapsodo guia, dando o ponto, a dialogar com o coro ou a fundir-se nele em harmoniosa orquestração.
Em filas ordenadas se deslocam, enlaçados pelos braços uns dos outros, para constituir solidário volume de órgão vivo, movendo-se com lentidão mais que alentejana, de olhos fechados os de maior transporte, para deixarem subir as almas harmonizadas até aos balcões dos castelos das nuvens e das estrelas.
Solene, respeitoso, ritual, é o andamento na rua, em que as filas de balançam de lado a lado, com o mais vagaroso compasso.
Os pés deslocam-se a oscilar em esboços coreográficos, como se por obediência a remota inspiração, uma dança litúrgica se fosse ali executando para subir em pomposa solenidade, a grande nave de uma catedral.
A qualquer conclusão a que chegue o investigador pelo caminho da verdade, por análises e confrontos essenciais, não comecem a dar mestres de Música aos cantores rurais de Beja nem os queiram eles aceitar, a título de aperfeiçoamento, para não vir a perverter-se a espontaneidade, a sinceridade das suas modas, o religioso e agreste encanto do seu Canto.

Junho-944 – Beja Cantadora Hipólito Raposo in Oferenda