segunda-feira, novembro 05, 2007

ILUSÕES

Um dia, de pura paixão platónica, achei que tinha escrito um poema razoável (não sei porquê mas sai sempre em francês e por isso pode ter erros):

Je te trouverai même au bout du monde.
Ne fuis pas ton destin...
Je t'attraperai jusqu'avant le précipice.
Ou alors,
je me jeterrai,
et des ailes jailliront juste pour voler avec toi...

Orgulhosa q.b., dirijo-me ao meu maior crítico, o meu irmão mais novo.

Silêncio... "Bom, não está mal..."

Uns dias depois, recebo um pequeno papel:

Jours devenus moments, moments filés de soie
Agréables soupirs, pleurs enfants de la joie
Voeux, serments et regards, transports, ravissements
Mélange dont on se fait le bonheur des amants

La Fontaine

Pronto, desisto...
Quem me manda a mim ter veleidades?

FERNANDO QUINTAIS - JOÃO CAMOSSA

Por falta de comparência, este blogue começa a ficar parecido com uma página de elogios fúnebres, mas é mesmo assim.

Não consigo ficar calada com a morte de dois amigos meus, tão próximas uma da outra.

Fernando Quintais, de quem já tinha falado em ocasião anterior, era uma das pessoas a quem escrevia cartas, mentalmente, a quem queria agradecer o livro que me ofereceu e que li devotamente, nas minhas viagens de metro até ao trabalho, a quem queria agradecer o ter sido o meu "patrono" num trabalho da faculdade, a paciência e condescendência com que sempre me aturou, desde a adolescência até já aos vinte e tal anos, a sua calma, ponderação, bondade...

Não vou nem posso esquecer...

João Camossa foi outro protector, noutro estilo.
Desafiador, de imensa sabedoria e sarcástico, nunca deixava de ter a última palavra.
Arranjou-me logo uma alcunha: "Cigana maldita" e parecia ter prazer em rematar a argumentação com o cognome.
Algures, no caos da minha desorganização documental, tenho rimas propósito de uma célebre canção sobre Vasco Gonçalves, que tentei, na minha teimosa adolescência, desconstruir.
Tanto insisti, teimei, manobrei, que os "meus " intelectuais, com a sua própria letra, escreveram quadras. Que me lembre, eram: Henrique Barrilaro Ruas (o meu santo), António Borges de Carvalho (o "porreiro") e claro, o mais cáustico, João Camossa.

Também não posso nem o vou esquecer...