segunda-feira, julho 16, 2012

A exposição na Junta

Há uns meses, não muitos, aconteceu uma exposição de fotografias em aldeia remota no Alentejo. Na Junta de Freguesia, uma casa minúscula à Estado Novo, barra de ocre a toda a volta e arco à entrada a dar sombra, nem mais nem menos do que uma das Juntas condenada à extinção sem remorsos pelo governo central. Isto depois de matarem a escola, a extensão do Centro de saúde... Um dia ainda tiram as festas de Agosto. Não sei o que virá a ser da casa e não percebo a poupança que fazem neste caso. Adiante.
À porta um letreiro mandava-nos ir buscar a chave ao café em frente. Assim fizemos, aproveitando para tomar o dito em converseta amena à volta daquelas mesas redondas que mal chegam para uma pessoa mas têm três cadeiras à volta, pelo que só metade de cada corpo chega à mesa, de perfil, uns novos hieróglifos à alentejana.
Lá levámos a chave, presa a qualquer coisa verde, talvez um crocodilo em miniatura, não sei, porque quando se trata de verde quero é esquecer.
Era uma exposição de retratos de alguns habitantes da aldeia, especialmente dos mais velhos, sózinhos e em casal, tiradas por um filho da terra com a máquina antiga do pai. Uma delícia os retratos, alguns mesmo muito bons.
Logo à entrada apareceu um dos retratados a quem pedimos que fizesse de guia e nos fosse identificando quem era quem. Não se fez rogado e começou:
- Este é o Zé, este o Manel, esta é a do Zé, esta é a do Manel...
- Ó homem, então as mulheres não têm nome?
Na verdade achara graça, mas ao mesmo tempo encanitara-me o olvido. Parou espantado, franzindo a testa. Acho que nunca tinha pensado nisso, aquilo saía-lhe naturalmente. Recomeçou e fez um esforço.
 - Este é o Zé mais a - uns segundos - Joaquina. Este aqui é o Manel mais a - uns segundos - a, a, Beatriz.
Não aguentou muito mais. As outras continuaram a ser "as dos" respectivos.
Nada a fazer.