quarta-feira, agosto 27, 2014

Velha

Só te lembras dos nomes à décima vez,
Só acertas com a linha na agulha à vigésima vez,
Mas ainda podes ler, rir e amar cem vezes, sem vez.

Leonor Raposo

Eco

Uma palavra basta,
que o diga o eco.
Sésamo revela tesouros,
experimenta outra.
Tu sabes.
Sempre soubeste.
És eco.

Leonor Raposo

sexta-feira, agosto 15, 2014

Nos 50 anos da morte do Pai

Se a vida política é convívio de homens, tem de os aceitar como são – com ideias, com interesses, com opiniões, com reflexos distintos.
Uns, como os fascistas, esperam criar ideias uniformes e acabam contentando-se com meros reflexos, condicionados por uma propaganda eficaz. Outros, como os democráticos, satisfazem-se com a variedade de opiniões, servidas ao pequeno almoço com o diário do partido.
Já vimos os resultados práticos destes sistemas.
Quer-nos parecer que o grande erro está em considerar o “homem político” como apenas dotado de opiniões ideológicas, quando há que o entender na sua integridade – dotado de opiniões, sem dúvida, mas com interesses reais e reais razões.
As razões podem discutir-se; os interesses podem harmonizar-se; só as opiniões se chocam ou se esmagam.
A nosso ver há que procurar que a vida política reflicta adequadamente as várias razões e os vários interesses de todos os portugueses, e que ao debater aquelas e ao acomodar estes, os portugueses sejam naturalmente levados a encontrar-se, por cima dos seus reflexos de proletário ou de visconde, para além das suas opiniões sobre a Reforma Agrária ou a nacionalização da C.U.F.
Este objectivo – a nossos olhos, o objectivo de toda a política autênticamente portuguesa – poderá porventura tentar-se em moldes partidários; só apesar deles se poderá conseguir.
Para tanto, seria necessário um grau de progresso económico, social e cívico, que se se terá alcançado na Suíça ou no Canadá, falta ainda à Itália e à França. E quem poderá afirmar que ultrapassámos todos os latinos em amor do real, em tolerância de espírito, em largueza de vistas?
Deverão ser as próprias formas da vida política nacional quem naturalmente neutralize a virulência das lutas ideológicas, sem coarctar a liberdade e a fecundidade da convivência dos portugueses.
Importa portanto que a Representação Nacional espelhe, não tanto as opiniões que dividem e os partidos que partem, mas as razões que se escutam e os interesses que se integram.

Rivera Martins de Carvalho
Excerto do texto “Esboço para um plano de trabalho” redigido por RMC mas publicado sob a responsabilidade da 1ª Comissão Executiva do Instituto António Sardinha: Manoel Galvão, Gastão da Cunha Ferreira, Henrique Barrilaro Ruas, Fernando Calheiros Vellozo e Rivera Martins de Carvalho e republicado em “Diário Político e outras páginas”, Biblioteca do Pensamento Político, 1971