Como é sabido, os pássaros,
talvez com algumas excepções, são muito gregários. Adoram voar em gangs, a que chamam prosaicamente bandos
e sempre que um pousa, pousam logo uns cinco ou seis, mesmo que por vezes, no
fio de alta tensão, tentem ser discretos e deixem algum espaço entre si
fingindo não se conhecerem.
Até quando a sua vida familiar os
leva a desleixar um pouco os outros, para dedicação à construção da sua casa,
apoio à maternidade e educação da prole, arranjam sempre forma de não faltar ao
acontecimento diário mais importante na vida de um pássaro verdadeiramente
digno desse nome: o fim-de-tarde.
Ponto de encontro, a sala. A
maior árvore das redondezas, quer seja uma inesperada araucária no meio da
cidade, quer um carvalho centenário. É o restaurante gigante dedicado a
casamentos e baptizados que eles adoram, pois permite agregar todo o bando.
Em alternativa, recorrem às
árvores em linha das cidades ou aos pequenos bosques no campo, onde conversam
em pequenos grupos mas conseguem ouvir e estar a par de todas as quadrilhices
das árvores alheias, como os restaurantes que têm espaços limitados por tabiques
e que são tudo menos privados, por mais que lhes dêem pomposamente o nome de privés.
É nesse fim-de-tarde que a
conversa é posta em dia. Todos relatam animadamente as suas aventuras e percursos
diários, recorrem à má-língua para tornar a conversa mais lúdica, e parecem a
minha família espanhola, falando incessantemente alto e ao mesmo tempo, sem deixarem
de se ouvir mutuamente.
Contar anedotas é uma das actividades
mais apreciadas, e quando uma lhes cai no goto riem às gargalhadas de tal forma
que levantam num breve voo em disposição circular, pairam ainda em círculo por
segundos e dando elegantemente a volta, regressam aos lugares marcados, para
continuar a conversa antes de regressar a casa.
Às vezes, somos. Pássaros. Até nos fins-de-tarde.
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