domingo, julho 31, 2011

Um legado do avô



















Em presença deste sumário de inquietações, mudanças e perseguições, não posso dizer que fiz uma carreira oficial, digna de apresentar-se como exemplo a seguir por quem tenha ambições ou aspire à satisfação de as ver realizadas.
Confesso-me inocente da culpa de haver nascido com alguma tendência para endireitar o mundo, em cada caso ouvindo pessoas discretas dizerem-me que era torta a vara da minha justiça. Então olhava para ela e parecia-me direita.
Vida estéril, inútil para os outros e para mim, resta-me lamentar que estes trabalhos, penas e sacrifícios, de nada tenham servido para bem da comunidade nacional, vendo-me obrigado a reconhecer com melancolia a força de verdade do velho prolóquio: quem serve ao comum, não serve a nenhum.
Esta amarga experiência poderá talvez servir de aviso aos que não tenham força para renunciar a interesses e vaidades, mantendo apenas a honra de sermos nós mesmos na firme coerência dos passos nos trabalhos e ciladas do mundo. Para esse fim, ouso supor algum tanto proveitosa a lição que se poderá colher da biografia oficial de quem nunca se atravessou no caminho dos outros.
Quanto a mim, neste cabo da vida, sem desejar compensações nem alimentar esperanças, nem por glória ou vanglória, quereria seguir outros caminhos se houvesse de tornar a nascer.
Nesta conformidade, leitor malévolo, aconselho-te o riso e prescindo da tua piedade, ao assegurar-te de que voltaria incorrigivelmente a lutar pelas razões da verdade e da justiça, aumentando as folhas deste cadastro, ao serviço da Nação Portuguesa.

Lisboa, 18 de Agosto de 1952.
Hipólito Raposo in Folhas do meu cadastro Vol II

sábado, julho 30, 2011

Normalidade

Todos os anos,
nos mesmos momentos,
nas mesmas torturas,
choro.
Não quero, mas sim,
choro.
Não gosto, mas sim,
choro.
Razões são sempre mil.
E são sempre mais de mil as outras razões
para não chorar.
Piegas.

Cego

Viste a criança com uma estrela na mão?
Viste a estrela que apagou o sonho?
Viste o sonho acordar o homem?
Viste o homem fugir da esperança?
Não viste e ele não agarrou a estrela.

sexta-feira, julho 29, 2011

Régua e esquadro

Nos próximos arranjos administrativos troikistas temo um olhar colonial sobre o caótico mapa existente, munido simplesmente de régua e esquadro para traçar nos organogramas, ignorando as curvas das competências e da voz dos habitantes. 


Exactamente o mesmo temor, ou maior ainda, tenho para as regionalizações troikistas.

segunda-feira, julho 25, 2011

Muito melhor que um filme

Qual filme! A nossa história é muitíssimo mais apaixonante...  
Se lemos, logo ouvimos e vemos!

Sem acordos ortográficos.

1139

Final da Acta das «Cortes de Lamego», reunidas na Igreja de Santa Maria de Almacave


....
Estas são as leis de justiça, e nobreza, e leos o Cancellario del rey, Alberto a todos, e disserão, boas são, justas são, queremos que valhão por nos, e por todos nossos decendentes q despois vierem. 

E disse o procurador del Rey Lourenço Viegas, 

Quereis que el rey nosso senhor va âs Cortes del rey de Leão, ou lhe dê tributo, ou a algûa outra pessoa tirando ao senhor Papa que o côfirmou no Reyno? 

E todos se levantarão, 

E tendo as espadas nuas postas em pé disserão: 

Nos somos livres, nosso Rey he livre, nossas mãos nos libertarão, 

e o senhor que tal consentir, morra, 

e se for Rey, não reine, mas perca o senhorio 

E o senhor Rey se levantou outra vez com a Coroa na cabeça e espada nua na mão falou a todos. 

Vos sabeis muito bem quantas batalhas tenho feitas por vossa liberdade, sois disto boas testemunhas, e o hé tambê meu braço, e espada; 

se alguem tal cousa consentir, morra pello mesmo caso, e se for filho meu, ou neto, não reine; 

e disserão todos: boa palavra, morra. 

El Rey se for tal que consinta em dominio alheo, não reine; e el rey outra vez: 

assi se faça. 

Ref.s José Mattoso, A Realeza de Afonso Henriques, História Crítica, nº 13, 1986, pp. 5-14; reed. in Fragmentos de uma composição medieval, Lisboa, Editorial Estampa, 1987, pp. 213-232.

sábado, julho 23, 2011

Quero


Um povo.
Um Rei.
Uma Nação.
Livres.

Que o povo livre se una em torno dos seus anseios.
Que a sua voz livre seja A voz.
Que o local se torne central.
Que a responsabilidade não seja oca.
Que a honra não seja vã.


terça-feira, julho 19, 2011

Resumo dos resumos dos últimos capítulos

Situação premente: Juros da dívida a quase 20%. Buraco já não se sabe de quanto. Iminência de bancarrota. Euro em fim de vida. Pobreza generalizada.

Reacção imediata: Primeiro-ministro em económica. Carros do Estado já não levam meninos à escola nem senhoras às compras. Maçãs-de-adão ao léu na agricultura. Mais um presente natalício para os mesmos.

Ao lado: SLB, SCP e FCP preparam época.


domingo, julho 17, 2011

Moeda de D. João I

Do mestre José Régio

Cântico Negro"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces 
Estendendo-me os braços, e seguros 
De que seria bom que eu os ouvisse 
Quando me dizem: "vem por aqui!" 
Eu olho-os com olhos lassos, 
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços) 
E cruzo os braços, 
E nunca vou por ali... 

A minha glória é esta: 
Criar desumanidade! 
Não acompanhar ninguém. 
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade 
Com que rasguei o ventre à minha mãe 

Não, não vou por aí! Só vou por onde 
Me levam meus próprios passos... 

Se ao que busco saber nenhum de vós responde 
Por que me repetis: "vem por aqui!"? 

Prefiro escorregar nos becos lamacentos, 
Redemoinhar aos ventos, 
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos, 
A ir por aí... 

Se vim ao mundo, foi 
Só para desflorar florestas virgens, 
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada! 
O mais que faço não vale nada. 

Como, pois sereis vós 
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem 
Para eu derrubar os meus obstáculos?... 
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós, 
E vós amais o que é fácil! 
Eu amo o Longe e a Miragem, 
Amo os abismos, as torrentes, os desertos... 

Ide! Tendes estradas, 
Tendes jardins, tendes canteiros, 
Tendes pátria, tendes tectos, 
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios... 
Eu tenho a minha Loucura ! 
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura, 
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios... 

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém. 
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe; 
Mas eu, que nunca principio nem acabo, 
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo. 

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções! 
Ninguém me peça definições! 
Ninguém me diga: "vem por aqui"! 
A minha vida é um vendaval que se soltou. 
É uma onda que se alevantou. 
É um átomo a mais que se animou... 
Não sei por onde vou, 
Não sei para onde vou 
- Sei que não vou por aí! 

quinta-feira, julho 14, 2011

Que mais?

Já escrevi abertamente à Merkel, já esbocei uma missiva ao triunvirato, que faço mais? 
Só me apetece retornar à mãe-madastra e dizer-lhe que nem sou filha, nem enteada, que recuso a herança, e que vou lutar sozinha pela vida.

domingo, julho 10, 2011

Esboço de pequena missiva ao triunvirato

To: IMF, ECB, EU
Bcc: Mrs Angela Merkel

Dear Sirs,
Again I have to renounce to my mother language to address someone. I hope my technical English is a bit better than the one my former prime Minister used to address you in.
First of all, I want to inform you that I did not vote for the former Prime Minister, and in fact, neither for any of the former Prime Ministers before him. That does not mean that I vote for any radical party, I just vote according to my conscience, and the stupid electoral law does not allow any more parties to be in Parliament than the 5 ones we have for years…
Not being an expert, and not pretending to be one, I, as a concerned citizen, have some very very simple questions about the MoU that you kindly presented to our political parties.

The good news: some expenditure cuts mainly those regarding what we call the “fat” within the State are good and should have been done by our politicians years ago.

Now the questions…

Are you sure you want us to pay the debt? Really?
Because, reading the MoU sometimes I have serious doubts about it…
Let’s see. The intention is to pay or to increase the debt?
Can you point out one case where you reduced the public deficit in so little time and in such a drastic way, foreseeing also a recession for several years and a loan with such high rates that did not end up creating more debt? I’m talking about a scenario where you cannot devaluate the currency… 
So, your plan is to make us beg for another loan 2 years from now? Is that it? Moody’s guessed it… Why? If it is for us to be pushed out of the euro, better to leave it now...

Just one more smaller thing that I cannot understand and seems a bit inconsistent with the rest:

Why on earth you explicitly say to review all public private partnerships but do not refer to a cancellation of the TGV? Or even suspension? Or review? Has this anything to do with a certain promise of a certain deal with a certain company in a certain European member state? 
Can you guarantee that my grandchildren will not be still paying a train that cannot sustain itself?

Because of our corrupt politicians but also of this agreement that should have foreseen some space for growth, our country is now ready to be even more looted…
Do not doubt for one moment that we’ll keep our word. But then there will be no more Portugal left.

See you in a few months.
Hoping you remember that growth means money, yours sincerely,

Leonor

sábado, julho 02, 2011

Desnorte

Sem comando,
numa desobediência cega,
meus olhos persistem em buscar-te,
esquadrinhando metódica e milimetricamente
cada quadrícula do horizonte
dos meus caminhos estafados,
mesmo sabendo que não estás.

Como se houvera encontro marcado,
Adivinho-te a cada esquina
E sempre me engano.

Sonho os teus passos
o teu olhar e os teus gestos.
Invento e percorro os teus recantos
e ainda assim, os meus sonhos povoam-se de desencontros…

Quero ler-te e traduzir-te,
Mas procuro o teu olhar e não me reconheces.

Leonor Raposo
01/07/11

Estatísticas...

Também tenho as minhas estatísticas, http://do-futuro.blogspot.com/. E publico-as para me sentir mesmo pequenina: tenho 7 anos e 1 mês, com grandes interregnos, 450 visualizações (mas deixei de ter sitemeter uns anos), 64 mensagens e 5 seguidores que têm no máximo um mês...

Comparar Júpiter com Plutão, dá nisto!