"...
O grupo de cavaleiros ficava agora completo, faltando alguns retoques que seriam dados mais à frente. Sobre as suas cabeças, no ponto de fuga previsto entre eles e o cavaleiro que investia solitário contra o bosque de lanças inimigas, erguia-se - erguer-se-iam quando fosssem mais que traços esquemáticos a carvão - as torres de Manhattan, Hong-Kong, Londres ou Madrid; qualquer cidade das muitas que viviam confiantes no poder dos seus colossos arrogantes: um bosque de edifícios modernos, inteligentes, habitados por seres seguros da sua juventude, beleza e imortalidade, convencidos de que a dor e a morte podiam manter-se à distância com a tecla enter de um computador. Ignorando, todos eles, que inventar um objecto técnico era inventar o seu acidente específico, da mesma forma que a criação do universo, desde o momento da nucleossíntese primordial, trazia implícita a palavra catástrofe. Por isso a história da Humanidade era tão sortida de torres feitas para serem evacuadas em quatro ou cinco horas, mas que só resistiam à acção de um incêndio durante duas, e de Titanics impávidos, insubmergíveis, à espera do bocado de gelo disposto pelo Caos no ponto exacto da sua carta náutica."
Arturo Pérez-Reverte em O Pintor de Batalhas
Edições Asa - Tradução de Helena Pitta
Edições Asa - Tradução de Helena Pitta
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