O dia 13 no Eternas Saudades do Futuro
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sexta-feira, abril 27, 2012
sexta-feira, abril 20, 2012
Da grei
O dia 12 no Eternas Saudades do Futuro
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terça-feira, abril 17, 2012
Dizei-me!
Dizei-me!
O que podemos fazer para deter
esta insanidade que tomou de assalto Portugal há anos antes que nos destrua
por completo?
Disseram-nos que é pelo voto que
mandamos e mudamos.
Votei. Votámos.
Não ouço lá a minha voz nem a de
muitos.
Disseram-nos que temos liberdade
de nos manifestar.
Estive em várias manifestações. Estivemos.
Não ligam, por maiores que sejam.
Disseram-nos que temos liberdade
de expressão.
Usamo-la todos os dias e alguns (poucos) jornalistas e pensadores denunciam e alertam.
Não ouvem.
As liberdades são todas ilusórias. Têm-nas uns poucos. Há liberdade apenas para roubar, trair e mentir.
Então, o que é que neste sistema político nos permite sermos ouvidos?
Então, o que é que neste sistema político nos permite sermos ouvidos?
Dizei-me!
O sistema é um mero jogo insidiosamente viciado, espartilhado, que invoca o perigo de
envenenamento para que ninguém fora dos partidos possa alguma vez interferir
na panela.
O que existe?
Dizei-me!
Uma ILC? Que lei se proporia na ILC, uma armadilha que, a final, vai ser sujeita à
aprovação dos mesmos? Só com 10 milhões de assinaturas se poderia pensar que ela fosse tida em conta...
Como foi possível não darmos por
isso e não resistirmos perante este divórcio litigioso entre povo e país? Um
divórcio agravado, pois bem vemos que o povo vive num planeta e o poder noutro.
Que faço? Que fazemos? Não quero mais sentir-me impotente. Não quero fingir que nada se passa. Não basta a revolta que nos revolve as entranhas.
Dizei-me!
Não posso ficar de braços cruzados assistindo à morte do meu
País. Salvem-no!
Como?
Alguém que me (nos) ajude, depressa. Tenho medo de desistir.
Dizei-me!
domingo, abril 15, 2012
Sílabas
Num tom que não admitia
contestação, declarei do alto dos meus três anos que queria ler. Não me lembro
da resposta mas deve ter soado a hesitação porque não mais larguei o assunto
até forçar uma rendição total.
Comecei então a ver a mãe a
recortar fotografias de revistas e a guardá-las. Intrigou-me, aquele mistério.
Parecia uma brincadeira que me estava vedada, e olhava entre o curiosa e o
zangada aqueles recortes coloridos. Até que um dia percebi: do desvelo de mãe saiu
um dossier pequeno, com algumas folhas
brancas. Nestas, cuidadosamente seleccionados estavam colados os tais recortes
de revistas e, à frente de cada boneco, uma letra.
Finalmente ia ler! Sofregamente
absorvi as letras e depois as sílabas, obrigando a desesperada mãe a pensar em
palavras que pudesse construir com o já aprendido e voltar às revistas para
encontrar os bonecos adequados. Ainda me lembro da folha que tinha um cavalo. Já
na altura era uma paixão, e o conseguir ler o nome da coisa amada comoveu-me. Tinha
conseguido! O dossier foi aproveitado para o irmão seguinte, mas o interesse
não era o mesmo, e quando chegava ao cavalo, olhava para a mãe com ar
triunfante e dizia sempre: Égua! Acho que ficou por ali.
Em casa da avó, na Rua de S. Ciro
ou no Alentejo, a mãe conseguia descansar um pouco da minha impaciência e dava
lugar à avó. Sentadas à camilha, eu numa cadeira com várias almofadas que me
faziam ter os pés ainda mais longe do chão, começava a lição. A avó pegava num
livro qualquer e com o seu vagaroso dedo indicador ia apontando as palavras que
eu tinha de ler e das quais não tinha a mínima ideia o que significavam. Eram
sílabas. Lindas. Uma vitória saborosa. De vez em quando, aquele carinhoso dedo enrugado
tapava as minhas sílabas e eu, chorosa, chamava a mãe em meu auxílio: Ó mãe, a
avó não me deixa ler!
Pouco a pouco deixaram-me à
solta, e aos cinco, lia os livros da Enid Blyton, “Os Cinco”, não percebendo
metade e perguntava sempre à mãe o que era “um fim emocionante”.
Em casa da mãe havia tudo. Pude
ir devorando sílabas. Portuguesas primeiro, mais tarde as francesas e inglesas.
Passaram também a ser minhas, estas.
Num dos escritórios no Alentejo estavam
os livros mais infantis, os da Condessa de Ségur, com gravuras e ortographia da
época. Minha querida Sophia, como sofri com os teus desastres!
Na sala havia uma pequena estante
com livros fascinantes que me acompanharam vida fora. Na prateleira de baixo
estavam os livros de estudo da minha avó e tias-avós, e os que serviram também
a mãe e tios. Passei férias inteiras a aprender francês, inglês, história e
geografia em livros do séc. XIX ou princípios do séc. XX, cujos exercícios
passava para um caderno comprado na vila.
Já mais velha lia os da
prateleira de cima, romances cor-de-rosa, como “John chauffeur russo” ou “Água
pela barba”. As histórias das meninas pobres e príncipes ou vice-versa,
repetidas à exaustão com diferenças que nos davam a ilusão de ser uma outra
história, quando afinal era a mesma…
Ainda hoje, quando entro nessa
sala, o meu olhar se vira para a estante, onde estão os livros que contêm as
minhas sílabas. Ainda lá estão, elas. Bem guardadas.
sexta-feira, abril 13, 2012
Da ida à terra
O dia 11 no Eternas Saudades do Futuro
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