segunda-feira, dezembro 26, 2011

Memórias a várias mãos do Natal dos Raposo na R. de S. Ciro


(texto em contínua evolução pelas mãos que o ditam, como exercício de memória)

Rua de S. Ciro. Casa da avó para nós, porque não chegámos a conhecer o avô.
Jantar do dia 25, com toda a família, o que queria dizer 6 filhos, respectivos maridos ou mulheres e 16 netos. A confusão do costume, correrias, gritos, a alegria do reencontro, mesmo que nos encontrássemos quase todos os sábados no mesmo sítio.
Uns dias antes chegava o perú do Alentejo, de comboio, confraternizava alegremente com as galinhas antes de ser embebedado para o dia de Natal, em que trôpego, tentava circundar os buxos.
Vinham “milhões” de perús em Novembro, eram engordados na R de S Ciro e vendidos para as embaixadas e pessoas que iam comprar à porta (Zeca).
No dia 25, íamos chegando, e corríamos directos para a salinha com porta para o jardim, onde a avó passava os dias, sentada à camilha, a fazer paciências com cartas minúsculas e já muito gastas.
Aos sábados entrávamos pelo portão, depois de tocar um sino. No Natal tínhamos direito à porta principal, ao lado, e havia uma sala que só era usada nessa altura (Catarina).
Depois do beijo respeitoso à avó e tios, começava a confraternização, os jogos… Jogar às escondidas naquela casa levava a muitas desistências, porque havia sempre vários que nunca eram descobertos.
A avó montava um presépio grande e já não sei em que altura chamava todos, acendia uma vela e, de joelhos, rezávamos e cantávamos ao Menino Jesus.
Das cantigas de Natal que se cantavam, ficou-me para sempre gravada na memória a estridente entoação que o Tio Quito dava á "noiiiiite do carameeeeelo !!!!" do "Entrai pastores, entrai". Todos os anos no Natal, quando oiço esta cantiga tento imita-lo. Mas nunca me sai bem... (Joana)
Quando eram pequenos os tios apanhavam no jardim o musgo para pôr no presépio. A avó Tim, às escondidas, punha dinheiro em notas debaixo do musgo com um nome de um pobre da rua. Depois dizia que aquele musgo já estava seco, as crianças tiravam-no, viam as notas com os nomes e iam dar as notas a essas pessoas, como se fosse um presente do presépio (Tia Bió).
A Ana Rita era posta em cima de uma mesa a imitar a Madre Rosa das Escravas (Catarina).
O jantar era numa mesa gigantesca, e aquele perú recheado não se compara com mais nada que tenhamos comido no resto das nossas vidas.
Nem me lembro bem dos presentes. Havia é claro, mas a lembrança de estar juntos é que fica.

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