O dia 95 no Eternas Saudades do Futuro
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sexta-feira, novembro 29, 2013
sexta-feira, novembro 22, 2013
De futebol e patriotismo
O dia 94 no Eternas Saudades do Futuro
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sexta-feira, novembro 15, 2013
Da página escrita
O dia 93 no Eternas Saudades do Futuro
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domingo, novembro 10, 2013
Ainda Beja (Hipólito Raposo)
…
Beja sabe muito bem cantar e ninguém lhe ensinou. Em famosos acentos de
exaltação, tristeza, saudade e amor, por estas noites de folguedo andam a
cantar rapazes e cachopas ao ar livre, senhoras e criadas dentro de casa, trauteiam
os garotos de recados e os engraxadores, entoam melancólicas lembranças os
velhos, e pela sua débil voz, já riem e também sonham as crianças pobres da
rua.
Na cidade de Beja, metrópole de zagais, não se assobia, canta-se
colectivamente. Quando os coros a outros coros respondem, por este nocturno
antifonário, parece que tomam voz as pedras e as árvores, os telhados e as
muralhas, as praças e as vielas. Por voltas de acaso ou por impulsos de
competição, todo o aglomerado urbano reboa de dominadoras polifonias que vão
ouvindo e meditando os transeuntes silenciosos, enquanto do pálio dos altos
céus choram luz as estrelas, talvez por não saberem cantar…
Por estas noites de tradicional expansão, em que na fé do povo
esquecidas vão as virtudes dos Santos do calendário, das fogueiras se levanta
em perfumes de hortelã, funcho e mentrasto, a mais funda e saudável respiração
da terra. Sucedem-se em desfile regular os grupos corais para demonstração e
provas de um exame em que se pode ganhar o prémio e o louvor dos entendidos, já
pela cidade todos dispersos, ocultos, a escutar…
Cinco, seis formações de vinte cantores, vão surgindo de uma esquina
por sua ordem, detêm-se nas praças, enchem de ecos as ruas caladas e absortas.
Depois, andam, desandam vagueiam pela noitada até aos alvores do sol-nado,
levando após eles devotos, curiosos ou admiradores.
Ao mesmo tempo, o povo cuidadosamente os ouve e julga, alinhado em
renques de multidão respeitosa, auditório de mulheredo e de morenos rurais,
aqui uns de manta e vara, acolá outros de pelico e safões bem lanudos e
encorreados.
E a segui-los, sèriamente, embevecidamente, todos os olhos de essa
gente do Sul, extáticos e saudosos da distância, pasmados na avidez dos longes,
olhos firmes e dilatados, como luzeiros de alma, à espera desde o primeiro
princípio, sempre à espera da hora de vencer os ilimitados limites do Além…
Nas vozes destes músicos iletrados que de dia são pastores, ganhões,
homens de ofício e caixeiros, ouvem-se redondilhas de poetas de talento e sem
nome, loas votivas ou hinos à sua amada terra em que sempre vibra o velho
orgulho alentejano:
De Pax Julia fui Beja,
Minha nobreza é antiga,
E às outras causa inveja
O bem que de mim se diga…
Em estrofes bem rimadas, desafogam-se mágoas, exaltam-se sentimentos
colectivos ou gemem-se queixas de amor, que a música às vezes desmente, sem
qualquer cerimónia nem reparo dos ouvintes…
Os cantadores vão-nos levando com eles para altitudes de entusiasmo ou
para zonas de pura comoção humana.
…corais espontâneos, geralmente constituídos por homens, alguns outros
mistos, neles entrando quatro ou cinco raparigas, com vozes de maviosa clareza
e suavidade.
...
Ninguém sabe como nasceram, onde se inspiraram, que escola tiveram
estes aedo-campaniços que um rapsodo guia, dando o ponto, a dialogar com o coro
ou a fundir-se nele em harmoniosa orquestração.
Em filas ordenadas se deslocam, enlaçados pelos braços uns dos outros,
para constituir solidário volume de órgão vivo, movendo-se com lentidão mais
que alentejana, de olhos fechados os de maior transporte, para deixarem subir
as almas harmonizadas até aos balcões dos castelos das nuvens e das estrelas.
…
Solene, respeitoso, ritual, é o andamento na rua, em que as filas de
balançam de lado a lado, com o mais vagaroso compasso.
Os pés deslocam-se a oscilar em esboços coreográficos, como se por
obediência a remota inspiração, uma dança litúrgica se fosse ali executando
para subir em pomposa solenidade, a grande nave de uma catedral.
…
A qualquer conclusão a que chegue o investigador pelo caminho da
verdade, por análises e confrontos essenciais, não comecem a dar mestres de Música
aos cantores rurais de Beja nem os queiram eles aceitar, a título de
aperfeiçoamento, para não vir a perverter-se a espontaneidade, a sinceridade
das suas modas, o religioso e agreste encanto do seu Canto.
…
Junho-944 – Beja Cantadora Hipólito Raposo in Oferenda
sábado, novembro 09, 2013
Da costura
Olhei para o sítio específico da “roupa
para coser” e suspirei. O pequeno monte tinha-se tornado montanha, precisava de
alpinista. Lá teve de ser. Uma escalada de agulha e linha na mão.
Quem me conhece de pequena sabe
da minha falta de jeito para tudo o que seja manual. Sabem destas mãos
desastradas.
Até ao 5º ano (actual 9º)
tínhamos as disciplinas de Desenho e Trabalhos Manuais (para as meninas eram
afinal lavores). Era dada nota por cada uma mas depois contava a média como se
fosse apenas uma. Sucede que nada do que fazia resultava, quer a uma quer a
outra.
A Desenho, especialmente o
geométrico, depois de extenuante esforço com o compasso, régua e esquadro, para
produzir qualquer coisa aceitável (sempre era melhor que o desenho livre!)
temia o tira-linhas e a tinta. Todo o trabalho anterior ficava oculto debaixo
dos borrões, o que era uma injustiça mas ninguém entendia. Isto para não falar
de nem com a régua conseguir desenhar uma recta que fosse recta. Eram sempre
rectas especiais. À minha maneira.
A Lavores ficou célebre a minha “roseta”
de crochet num teste, porque mais
parecia uma miniatura de boina. Esquecera-me de acrescentar qualquer coisa a
cada fila. O tal enxoval de bebé, para o qual fazíamos uma ou duas peças por
ano, teve sempre de ser acabado pela professora (odiosa, diga-se) e acredito
que ainda tivesse de desmanchar a minha parca e deficiente produção.
Estas mãos de bruxa, porque de
fada não eram, davam pois direito a negativa negativíssima.
No colégio acabavam por ter pena
de mim, sempre com boas notas nas outras disciplinas e um desastre naquelas. Assim, as duas notas eram “levantadas” para que não chumbasse. Lá estavam, bem a encarnado na caderneta, para
que soubesse do “levantamento”, o 9 a Desenho e o 10 a Trabalhos Manuais, ou
vice-versa consoante os anos.
Hoje sei que parte do desastre
tinha a ver com ser canhota. Não me adaptava aos instrumentos…
Por isso, sinto que em cada botão
pregado, em cada bainha feita, em cada passajar de meias, em cada buraco cosido,
por pior que fiquem, por mais tortos os pontos, estou a subir aquelas notas a
encarnado. Nunca hei-de chegar ao 20, mas não preciso.
sexta-feira, novembro 08, 2013
Do êxodo
O dia 92 no Eternas Saudades do Futuro
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sexta-feira, novembro 01, 2013
Do património e do dia de Todos-os-Santos
O dia 91 no Eternas Saudades do Futuro
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