sábado, novembro 09, 2013

Da costura

Olhei para o sítio específico da “roupa para coser” e suspirei. O pequeno monte tinha-se tornado montanha, precisava de alpinista. Lá teve de ser. Uma escalada de agulha e linha na mão.
Quem me conhece de pequena sabe da minha falta de jeito para tudo o que seja manual. Sabem destas mãos desastradas.
Até ao 5º ano (actual 9º) tínhamos as disciplinas de Desenho e Trabalhos Manuais (para as meninas eram afinal lavores). Era dada nota por cada uma mas depois contava a média como se fosse apenas uma. Sucede que nada do que fazia resultava, quer a uma quer a outra.
A Desenho, especialmente o geométrico, depois de extenuante esforço com o compasso, régua e esquadro, para produzir qualquer coisa aceitável (sempre era melhor que o desenho livre!) temia o tira-linhas e a tinta. Todo o trabalho anterior ficava oculto debaixo dos borrões, o que era uma injustiça mas ninguém entendia. Isto para não falar de nem com a régua conseguir desenhar uma recta que fosse recta. Eram sempre rectas especiais. À minha maneira.
A Lavores ficou célebre a minha “roseta” de crochet num teste, porque mais parecia uma miniatura de boina. Esquecera-me de acrescentar qualquer coisa a cada fila. O tal enxoval de bebé, para o qual fazíamos uma ou duas peças por ano, teve sempre de ser acabado pela professora (odiosa, diga-se) e acredito que ainda tivesse de desmanchar a minha parca e deficiente produção.
Estas mãos de bruxa, porque de fada não eram, davam pois direito a negativa negativíssima.
No colégio acabavam por ter pena de mim, sempre com boas notas nas outras disciplinas e um desastre naquelas. Assim, as duas notas eram “levantadas” para que não chumbasse. Lá estavam, bem a encarnado na caderneta, para que soubesse do “levantamento”, o 9 a Desenho e o 10 a Trabalhos Manuais, ou vice-versa consoante os anos.
Hoje sei que parte do desastre tinha a ver com ser canhota. Não me adaptava aos instrumentos…

Por isso, sinto que em cada botão pregado, em cada bainha feita, em cada passajar de meias, em cada buraco cosido, por pior que fiquem, por mais tortos os pontos, estou a subir aquelas notas a encarnado. Nunca hei-de chegar ao 20, mas não preciso.

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