tag:blogger.com,1999:blog-70299082024-03-13T06:10:06.753+00:00ego quoqueLeonor Raposohttp://www.blogger.com/profile/13554672714521585651noreply@blogger.comBlogger250125tag:blogger.com,1999:blog-7029908.post-63748161428055464102016-01-01T02:10:00.000+00:002016-01-02T02:15:13.761+00:00Embarque <div dir="ltr" id="docs-internal-guid-5e9d86c8-faf2-3a42-7e89-94fe019bf359" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<br /></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 34.574px; vertical-align: baseline;">Chegou de mansinho,</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 34.574px; vertical-align: baseline;">Num qualquer dia,</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 34.574px; vertical-align: baseline;">Num qualquer cais,</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 34.574px; vertical-align: baseline;">Um barco. O barco.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 34.574px; vertical-align: baseline;">Único numa floresta de mastros.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 34.574px; vertical-align: baseline;">A brilhar de tão novo, ansioso por crescer e ser,</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 34.574px; vertical-align: baseline;">Ou veleiro antigo, contador de História e histórias.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 34.574px; vertical-align: baseline;">Certo é não termos rosa-dos-ventos.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 34.574px; vertical-align: baseline;">Sem porquês, embarcamos.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 34.574px; vertical-align: baseline;">Embarco.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 34.574px; vertical-align: baseline;">Que o mar nos seja propício</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 34.574px; vertical-align: baseline;">Que as nossas mãos amainem ventos</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 34.574px; vertical-align: baseline;">Que todos os portos sejam nossos.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 34.574px; vertical-align: baseline;">Bem em cima da linha do horizonte</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 34.574px; vertical-align: baseline;">Deixaremos o nosso padrão.</span></div>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 34.574px; vertical-align: baseline;">Leonor Raposo</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 34.574px; vertical-align: baseline;">Somewhere em Dezembro de 2015</span></div>
Leonor Raposohttp://www.blogger.com/profile/13554672714521585651noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7029908.post-864527393970557942015-10-01T13:34:00.002+01:002015-10-01T13:36:14.657+01:00Frágil Sem ninguém o ter invocado,<br />
Galopa em mim um medo insano.<br />
Medo de te tocar.<br />
Que ao tocar-te, te quebres...<br />
Que cada pedaço do teu quebrar<br />
Quebre cada pedaço do meu.<br />
<br />
01/10/15Leonor Raposohttp://www.blogger.com/profile/13554672714521585651noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7029908.post-91460486058436409102014-12-08T15:45:00.001+00:002014-12-09T03:04:45.154+00:00CARTA ABERTA AO SR. ANTÓNIO COSTA (aos vereadores da câmara municipal de Lisboa e aos deputados municipais)<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Estou numa revolta tal que se me
põe o estômago em brasa, o coração em alta velocidade e os olhos lacrimejantes. Dir-me-á que há coisas piores que também me deviam revoltar, e revoltam, mas hoje é esta.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Já há uns tempos que ando para
escrever sobre este assunto, avisei até nessa coisa chamada <i>facebook</i>, mas sendo a revolta grande
pensei que me teria de acalmar para não sair disparate e porque até talvez não
se viesse a concretizar a ideia.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Falo, é claro, da proibição de
circulação em Lisboa de carros anteriores a 2000 e 1996, em diferentes
circunstâncias.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não me venha com a história de
que vou falar de casos pessoais, pois todos os que têm carro anterior àquelas
datas são casos pessoais, muitos deles iguais ao meu. Quem tem carros mais
novos terá a sua história, com certeza mais brilhante que a nossa. Ainda bem
que todos vocês têm carros novos, significa que ganharam bem, mas chego à
conclusão de que não conhecem os lisboetas, o que é grave.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Nasci em Lisboa, vivo em Lisboa,
pago todos os impostos e taxas que revertem a favor da Câmara. Penso que tenho
direito a tratamento de tapete encarnado, como todos os lisboetas nas mesmas
circunstâncias (pensava mal, pelos vistos!). <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O meu bólide (poderá chamar-lhe carcaça
se o entender) vai fazer dezanove anos no próximo mês. Nunca tive dinheiro,
desde que o comprei, para adquirir um novo. Estou a tentar comprar um carro
usado, mas penso que só consigo adiantar uns dois anos à idade do meu actual. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ando há mais de dez anos em
transportes públicos ou de táxi. A maior prova disso é a quilometragem do dito
bólide (ou carcaça) após estes dezanove anos ao meu serviço: pouco mais de 122.000
quilómetros.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Neste momento sou a única da
família chegada que até tem carro. Se quiser mostrar à minha mãe (outra sua
munícipe que por razões de saúde já não anda) a sua (do Sr. António Costa) tão preciosa
Ribeira das Naus, não posso. Teria de a meter no Metro, calculo. Não acredito
que nenhum dos senhores em consciência (e têm-na?) o fizesse à sua própria mãe.
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não quero saber se isto é por
causa da poluição e multas da Comissão Europeia. Seja criativo, é essa a sua
obrigação, foi para isso que o elegeram, não para escolher os caminhos fáceis
das proibições. Converse com as empresas de transporte e subsidie mais
percursos, converse com os presidentes de câmara à volta da cidade, envergonhe
quem só anda de carro, sei lá, tudo menos proibir os munícipes de mais baixos
rendimentos de poderem atravessar Lisboa nem que seja uma vez no ano. Há muitos
argumentos e alternativas contra esta aberração, mas uma cabeça quente não chega
para tudo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não vou ligar à proibição e juro
que se for multada nas pouquíssimas vezes em que andar de carro em Lisboa (será já no Natal?), se
puder levo o caso a um qualquer tribunal português, europeu ou mundial este
atropelo injusto e vergonhoso num momento de crise como este. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Se o Sr. trata assim os seus
munícipes, facilmente se calcula como tratará os portugueses se chegar a cargo
mais alto. Comigo não conte.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
Leonor Raposohttp://www.blogger.com/profile/13554672714521585651noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7029908.post-31812727680553019582014-09-09T23:51:00.000+01:002014-09-09T23:51:19.095+01:00Pescarias ego quoque<div style="text-align: justify;">
"....</div>
<div style="text-align: justify;">
Já não há bárbaros, Faulques. Estão todos cá dentro. E nem sequer há ruínas como as de antigamente, acrescentaria mais tarde, em Osijek, enquanto fotografava uma casa cuja fachada desaparecera sob uma bomba e que, atrás dos escombros amontoados na rua, mostrava, ainda de pé, a quadrícula íntima dos quartos com móveis, utensílios domésticos e fotografias familiares dependuradas nas paredes. Noutro tempo, disse - deslocava-se com precaução entre os pedaços de betão e os ferros retorcidos, com a máquina fotográfica perto da cara, procurando o enquadramento perfeito -, as ruínas eram indestrutíveis. Não achas? Ficavam aí séculos e séculos, embora as pessoas usassem as pedras nas suas casas e os mármores nos seus palácios. E depois apareciam Hubert Robert ou Magnasco com o seu cavalete, e pintavam-nas. Agora não é assim. Repara nisto. O nosso mundo fabrica escombros em vez de ruínas e, assim que pode, lança-lhes um <i>bulldozer</i> e fá-los desaparecer, disposto a esquecer. As ruínas incomodam, importunam. E, claro, sem livros de pedra para ler o futuro, vemo-nos de repente na margem, com um pé na barca e sem moeda no bolso para Caronte."<br />
<br />
<span style="text-align: start;">Arturo Pérez-Reverte em O Pintor de Batalhas </span><br />
<span style="text-align: start;">Edições Asa - Tradução de Helena Pitta</span><br />
<div>
<br /></div>
</div>
Leonor Raposohttp://www.blogger.com/profile/13554672714521585651noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7029908.post-18823810579780434362014-09-09T23:47:00.000+01:002014-09-09T23:47:01.093+01:00Pescarias ego quoque<div style="text-align: justify;">
"...</div>
<div style="text-align: justify;">
O grupo de cavaleiros ficava agora completo, faltando alguns retoques que seriam dados mais à frente. Sobre as suas cabeças, no ponto de fuga previsto entre eles e o cavaleiro que investia solitário contra o bosque de lanças inimigas, erguia-se - erguer-se-iam quando fosssem mais que traços esquemáticos a carvão - as torres de Manhattan, Hong-Kong, Londres ou Madrid; qualquer cidade das muitas que viviam confiantes no poder dos seus colossos arrogantes: um bosque de edifícios modernos, inteligentes, habitados por seres seguros da sua juventude, beleza e imortalidade, convencidos de que a dor e a morte podiam manter-se à distância com a tecla <i>enter </i>de um computador. Ignorando, todos eles, que inventar um objecto técnico era inventar o seu acidente específico, da mesma forma que a criação do universo, desde o momento da nucleossíntese primordial, trazia implícita a palavra catástrofe. Por isso a história da Humanidade era tão sortida de torres feitas para serem evacuadas em quatro ou cinco horas, mas que só resistiam à acção de um incêndio durante duas, e de Titanics impávidos, insubmergíveis, à espera do bocado de gelo disposto pelo Caos no ponto exacto da sua carta náutica."</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="text-align: start;">Arturo Pérez-Reverte em O Pintor de Batalhas </span><br />
<span style="text-align: start;">Edições Asa - Tradução de Helena Pitta</span></div>
Leonor Raposohttp://www.blogger.com/profile/13554672714521585651noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7029908.post-33598850740655845632014-08-27T22:11:00.002+01:002014-08-27T22:11:41.753+01:00VelhaSó te lembras dos nomes à décima vez,<br />
Só acertas com a linha na agulha à vigésima vez,<br />
Mas ainda podes ler, rir e amar cem vezes, sem vez.<br />
<br />
Leonor Raposo<br />
<br />Leonor Raposohttp://www.blogger.com/profile/13554672714521585651noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7029908.post-45361696705647645742014-08-27T22:08:00.000+01:002014-08-27T22:08:25.002+01:00EcoUma palavra basta,<br />
que o diga o eco.<br />
Sésamo revela tesouros,<br />
experimenta outra.<br />
Tu sabes.<br />
Sempre soubeste.<br />
És eco.<br />
<br />
Leonor RaposoLeonor Raposohttp://www.blogger.com/profile/13554672714521585651noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7029908.post-77047817087271273402014-08-15T14:45:00.001+01:002014-08-15T14:45:39.448+01:00Nos 50 anos da morte do Pai<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsPEW2I_CEEpTJfx0OcXp6CPBeRJ2hY2ByB-wZqhYPuLFjfqtWpAGALKybfrJEFuub8HU0KJOP8IW23RoH243fNYA1S7yKNF5HcjTWhPUKdMfKuoA17HujHmkod3FQlHXCeP6qCg/s1600/Pai0001.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsPEW2I_CEEpTJfx0OcXp6CPBeRJ2hY2ByB-wZqhYPuLFjfqtWpAGALKybfrJEFuub8HU0KJOP8IW23RoH243fNYA1S7yKNF5HcjTWhPUKdMfKuoA17HujHmkod3FQlHXCeP6qCg/s1600/Pai0001.jpg" height="311" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
…<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
Se a vida política é convívio de homens, tem de os
aceitar como são – com ideias, com interesses, com opiniões, com reflexos
distintos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
Uns, como os fascistas, esperam criar ideias
uniformes e acabam contentando-se com meros reflexos, condicionados por uma
propaganda eficaz. Outros, como os democráticos, satisfazem-se com a variedade
de opiniões, servidas ao pequeno almoço com o diário do partido.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
Já vimos os resultados práticos destes sistemas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
Quer-nos parecer que o grande erro está em
considerar o “homem político” como apenas dotado de opiniões ideológicas,
quando há que o entender na sua integridade – dotado de opiniões, sem dúvida,
mas com interesses reais e reais razões.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
As razões podem discutir-se; os interesses podem
harmonizar-se; só as opiniões se chocam ou se esmagam.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
A nosso ver há que procurar que a vida política
reflicta adequadamente as várias razões e os vários interesses de todos os
portugueses, e que ao debater aquelas e ao acomodar estes, os portugueses sejam
naturalmente levados a encontrar-se, por cima dos seus reflexos de proletário
ou de visconde, para além das suas opiniões sobre a Reforma Agrária ou a
nacionalização da C.U.F.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
Este objectivo – a nossos olhos, o objectivo de
toda a política autênticamente portuguesa – poderá porventura tentar-se em
moldes partidários; só apesar deles se poderá conseguir.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
Para tanto, seria necessário um grau de progresso
económico, social e cívico, que se se terá alcançado na Suíça ou no Canadá,
falta ainda à Itália e à França. E quem poderá afirmar que ultrapassámos todos
os latinos em amor do real, em tolerância de espírito, em largueza de vistas?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
Deverão ser as próprias formas da vida política
nacional quem naturalmente neutralize a virulência das lutas ideológicas, sem
coarctar a liberdade e a fecundidade da convivência dos portugueses.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
Importa portanto que a Representação Nacional espelhe,
não tanto as opiniões que dividem e os partidos que partem, mas as razões que
se escutam e os interesses que se integram.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b>Rivera Martins de Carvalho <o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 9.0pt; line-height: 115%;">Excerto do texto “Esboço
para um plano de trabalho” redigido por RMC mas publicado sob a
responsabilidade da 1ª Comissão Executiva do Instituto António Sardinha: Manoel
Galvão, Gastão da Cunha Ferreira, Henrique Barrilaro Ruas, Fernando Calheiros
Vellozo e Rivera Martins de Carvalho e republicado em “Diário Político e outras
páginas”, Biblioteca do Pensamento Político, 1971<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
Leonor Raposohttp://www.blogger.com/profile/13554672714521585651noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7029908.post-5232681119553795962014-07-12T20:50:00.001+01:002014-07-12T20:50:14.141+01:00Ego quoque por aí<p dir=ltr>Fotógrafo a la minuta no Santuário de Santa Luzia.</p>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"> <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQMt9VSBk1Lrap7ZUDf3nrFUl9MBIrNVDA1lhMaITZg0IhEYFt983xGSQ2LO3q_dRFAg3YZOyMDF1aSgfTYiSqeq_v0ohST4hI-MJ2rT9n_fXZ0cFeVLcizv6DTBAYcfg3KpkceQ/s1600/IMG_20140629_123122.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"> <img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQMt9VSBk1Lrap7ZUDf3nrFUl9MBIrNVDA1lhMaITZg0IhEYFt983xGSQ2LO3q_dRFAg3YZOyMDF1aSgfTYiSqeq_v0ohST4hI-MJ2rT9n_fXZ0cFeVLcizv6DTBAYcfg3KpkceQ/s640/IMG_20140629_123122.jpg"> </a> </div>Leonor Raposohttp://www.blogger.com/profile/13554672714521585651noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7029908.post-33433729677538166322014-07-10T23:16:00.001+01:002014-07-10T23:16:26.278+01:00Pescarias ego quoque<p dir=ltr>"Agora examinava atentamente as imagens do mural, franzindo o sobrolho.<br>
- Também fazem parte das suas recordações as guerras antigas?... Tróia e sítios assim?<br>
Foi a vez de Faulques esboçar um ligeiro sorriso.<br>
- É disso que se trata. Os sítios assim são sempre o mesmo sítio."</p>
<p dir=ltr>Arturo Pérez-Reverte em O Pintor de Batalhas <br>
Edições Asa - Tradução de Helena Pitta</p>
Leonor Raposohttp://www.blogger.com/profile/13554672714521585651noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7029908.post-83868802903474249072014-01-03T00:22:00.001+00:002014-01-03T00:22:06.137+00:00A derradeira crónicaO dia 100 no Eternas Saudades do Futuro<br />
<br />
<a href="http://do-futuro.blogspot.pt/2014/01/carteira-de-senhora.html">http://do-futuro.blogspot.pt/2014/01/carteira-de-senhora.html</a><br />
<br />Leonor Raposohttp://www.blogger.com/profile/13554672714521585651noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7029908.post-17166701456946849852013-12-29T17:43:00.000+00:002013-12-29T17:43:09.038+00:00De António Alçada Baptista<div style="text-align: justify;">
"...</div>
<div style="text-align: justify;">
Porque, sem dramatismos menores, a verdade é que a barbárie se instala e não vem dos tais invasores selvagens e cruéis. Vem do ritmo que imprimiram à nossa civilização, naquilo que introduziu na nossa vida quotidiana a racionalidade de um progresso e duma técnica que deixámos avançar incontrolados sem respeito pelas várias ecologias - as da terra e as da alma -, a destruir um tecido social cerzido por séculos e séculos de experiência do homem no seu diálogo com a natureza. Porque a verdade é que somos memória, que é como quem diz, tempo e história, e tudo isso é fruto de um corpo a corpo secular entre aquilo que temos por dentro e o mundo que encontrámos para exercitar a vida.</div>
<div style="text-align: justify;">
...</div>
<div style="text-align: justify;">
Uma das saídas da massificação seria talvez a da cultura, que não é, obviamente, a cultura de massa. É a cultura no seu modelo clássico: uma mistura da educação, do saber e da sensibilidade, uma necessidade de conviver com o estético, acompanhado do conhecimento dos porquês do mundo e do sentido da vida, que é, em rigor, a missão da criação artística. Mas não creio que, para tudo isto, baste a vontade de cada um e a determinação dos políticos. Tudo terá que nascer da necessidade de responder à incomodidade colectiva e cujas respostas se exprimem já através duma sintomatologia diversificada e que tem que ver com o desejo de preservação da História através do património, da guarda da paisagem, dos costumes, da gastronomia, do folclore, da procura dos espaços, a recusa da uniformidade, da aproximação da natureza, enfim, de um conjunto de coisas que correspondem a nostalgias profundas, que o consumismo atento procura recuperar a seu favor.</div>
<div style="text-align: justify;">
...</div>
<div style="text-align: justify;">
Não posso garantir que a redescoberta e a revalorização da terra, o respeito pela sua identidade, a sua diversidade e a sua história, sejam a panaceia que vai libertar o homem deste mundo cinzento em que vivemos, mas estou convencido de que, sem isso, será muito difícil readquirir uma postura que nos ponha em harmonia com aquilo que exige o mais profundo da nossa vocação individual, cultural, espiritual e cósmica.</div>
<div style="text-align: justify;">
Reconhecermo-nos na história e na geografia da nossa terra, exigirmos o respeito pelas matrizes em que nascemos e vivemos, é um programa indispensável à nossa sobrevivência de seres libertos das modernas opressões e será, possivelmente, a única ponte de passagem para o futuro."</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
António Alçada Baptista in A Pesca à Linha - Algumas Memórias, Editorial Presença</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Leonor Raposohttp://www.blogger.com/profile/13554672714521585651noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7029908.post-15945394866491078012013-12-27T00:12:00.003+00:002013-12-27T00:12:57.102+00:00Dos Natais em memóriaO dia 99 no Eternas Saudades do Futuro<br />
<br />
<a href="http://do-futuro.blogspot.pt/2013/12/carteira-de-senhora_27.html">http://do-futuro.blogspot.pt/2013/12/carteira-de-senhora_27.html</a><br />
<br />Leonor Raposohttp://www.blogger.com/profile/13554672714521585651noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7029908.post-2608511450961377212013-12-20T00:21:00.001+00:002013-12-20T00:21:32.772+00:00Do "acordo" (3)O dia 98 no Eternas Saudades do Futuro<br />
<br />
<a href="http://do-futuro.blogspot.pt/2013/12/carteira-de-senhora_20.html">http://do-futuro.blogspot.pt/2013/12/carteira-de-senhora_20.html</a>Leonor Raposohttp://www.blogger.com/profile/13554672714521585651noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7029908.post-356376532340609662013-12-19T00:44:00.000+00:002013-12-19T00:44:32.153+00:00Da LínguaPorque amanhã se vai discutir o futuro da Língua, aqui vos deixo algumas palavras, escritas antes ainda do anterior "acordo" de 1945, por quem melhor do que eu as sabia usar.<br />
<span style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><br /></span>
<span style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">“Os Portugueses de boa lei dolorosamente sentem que dos grandes valores
nacionais agora mais ultrajados, deve a Língua ser apontada como a primeira das
vítimas, considerando que desrespeitá-la com culpa, é cometer pecado contra a
própria alma da Pátria.”</span><br />
<span style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">“Na Língua se transmite todo o património espiritual dos antepassados,
recebendo por ela os descendentes tão íntima e profunda herança que nem os mais
desvairados e ingratos legatários a podem repudiar.” </span><br />
<span style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><b>Hipólito Raposo - Oferenda</b></span><br />
<span style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><br /></span>
<span style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">“Não é o idioma de um povo mercadoria que se lhe ponha à escolha para
pegar ou deixar; històricamente associado o povo à formação da língua, ela é
parte consubstancial do seu próprio ser.” </span><br />
<span style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><b>Luis de Almeida Braga - </b></span><span style="text-align: justify;"><b>Paixão e Graça da Terra</b></span><br />
<span style="text-align: justify;"><b><br /></b></span>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 168.75pt; text-align: justify;">
“A nossa
língua é a obra-prima do espírito nacional, a criação para que todos os
Portugueses uniram as almas durante séculos, harmònicamente, sem o desígnio,
aliás impossível, de para isso entrarem em acôrdo…” </div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 168.75pt; text-align: justify;">
“Aos nossos
filhos deixemos, como melhor legado, depois dos ditames da moral e da honra, a
língua portuguesa, viva, orgulhosa e incorrupta, para que a sua música não se
dissolva no silêncio nebuloso dos séculos, mas seja eterna a sua voz de
pensamento, a sua consolação de caridade, o seu frémito de paixão”.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 168.75pt; text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 168.75pt; text-align: justify;">
<b>Hipólito
Raposo - Aula Régia<o:p></o:p></b></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Leonor Raposohttp://www.blogger.com/profile/13554672714521585651noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7029908.post-77738579997582151702013-12-13T00:28:00.000+00:002013-12-13T00:28:13.596+00:00Dos homens e da PátriaO dia 97 no Eternas Saudades do Futuro<br />
<br />
<a href="http://do-futuro.blogspot.pt/2013/12/carteira-de-senhora_13.html">http://do-futuro.blogspot.pt/2013/12/carteira-de-senhora_13.html</a>Leonor Raposohttp://www.blogger.com/profile/13554672714521585651noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7029908.post-11858562647625695922013-12-06T00:40:00.001+00:002013-12-06T00:40:37.636+00:00De razões para sorrirO dia 96 no Eternas Saudades do Futuro<br />
<br />
<a href="http://do-futuro.blogspot.pt/2013/12/carteira-de-senhora.html">http://do-futuro.blogspot.pt/2013/12/carteira-de-senhora.html</a>Leonor Raposohttp://www.blogger.com/profile/13554672714521585651noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7029908.post-77561370536550215132013-12-01T00:42:00.001+00:002013-12-01T00:42:51.288+00:00Últimas BD lidas:<br />
<br />
Os dois últimos volumes do "Les Tours de Bois-Maury". Segue-se Bois-Maury. Gosto muito do Hermann,<br />
Os volumes 7 e 8 do Bouncer. Os desenhos e cores do Boucq são fantásticos...<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://www.bedetheque.com/media/Couvertures/Couv_17457.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://www.bedetheque.com/media/Couvertures/Couv_17457.jpg" height="320" width="235" /></a><a href="http://www.coinbd.com/img/couvertures_big/bouncer-tome-7-:-coeur-double-11091.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://www.coinbd.com/img/couvertures_big/bouncer-tome-7-:-coeur-double-11091.jpg" height="320" width="235" /></a></div>
Leonor Raposohttp://www.blogger.com/profile/13554672714521585651noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7029908.post-86888841695955033352013-11-29T01:28:00.000+00:002013-11-29T01:28:52.167+00:00Do 1º de Dezembro - IIO dia 95 no Eternas Saudades do Futuro<br />
<br />
<a href="http://do-futuro.blogspot.pt/2013/11/carteira-de-senhora_29.html">http://do-futuro.blogspot.pt/2013/11/carteira-de-senhora_29.html</a>Leonor Raposohttp://www.blogger.com/profile/13554672714521585651noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7029908.post-90273513823776877622013-11-22T00:20:00.000+00:002013-11-22T00:20:00.635+00:00De futebol e patriotismoO dia 94 no Eternas Saudades do Futuro<br />
<br />
<a href="http://do-futuro.blogspot.pt/2013/11/carteira-de-senhora_22.html">http://do-futuro.blogspot.pt/2013/11/carteira-de-senhora_22.html</a>Leonor Raposohttp://www.blogger.com/profile/13554672714521585651noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7029908.post-16466279446329092232013-11-15T01:00:00.001+00:002013-11-15T01:00:54.708+00:00Da página escritaO dia 93 no Eternas Saudades do Futuro<br />
<br />
<a href="http://do-futuro.blogspot.pt/2013/11/carteira-de-senhora_15.html">http://do-futuro.blogspot.pt/2013/11/carteira-de-senhora_15.html</a>Leonor Raposohttp://www.blogger.com/profile/13554672714521585651noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7029908.post-87241982653468902722013-11-10T18:26:00.000+00:002013-11-10T18:26:13.232+00:00Ainda Beja (Hipólito Raposo)<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
…<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
Beja sabe muito bem cantar e ninguém lhe ensinou. Em famosos acentos de
exaltação, tristeza, saudade e amor, por estas noites de folguedo andam a
cantar rapazes e cachopas ao ar livre, senhoras e criadas dentro de casa, trauteiam
os garotos de recados e os engraxadores, entoam melancólicas lembranças os
velhos, e pela sua débil voz, já riem e também sonham as crianças pobres da
rua.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
Na cidade de Beja, metrópole de zagais, não se assobia, canta-se
colectivamente. Quando os coros a outros coros respondem, por este nocturno
antifonário, parece que tomam voz as pedras e as árvores, os telhados e as
muralhas, as praças e as vielas. Por voltas de acaso ou por impulsos de
competição, todo o aglomerado urbano reboa de dominadoras polifonias que vão
ouvindo e meditando os transeuntes silenciosos, enquanto do pálio dos altos
céus choram luz as estrelas, talvez por não saberem cantar…<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
Por estas noites de tradicional expansão, em que na fé do povo
esquecidas vão as virtudes dos Santos do calendário, das fogueiras se levanta
em perfumes de hortelã, funcho e mentrasto, a mais funda e saudável respiração
da terra. Sucedem-se em desfile regular os grupos corais para demonstração e
provas de um exame em que se pode ganhar o prémio e o louvor dos entendidos, já
pela cidade todos dispersos, ocultos, a escutar…<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
Cinco, seis formações de vinte cantores, vão surgindo de uma esquina
por sua ordem, detêm-se nas praças, enchem de ecos as ruas caladas e absortas.
Depois, andam, desandam vagueiam pela noitada até aos alvores do sol-nado,
levando após eles devotos, curiosos ou admiradores.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
Ao mesmo tempo, o povo cuidadosamente os ouve e julga, alinhado em
renques de multidão respeitosa, auditório de mulheredo e de morenos rurais,
aqui uns de manta e vara, acolá outros de pelico e safões bem lanudos e
encorreados.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
E a segui-los, sèriamente, embevecidamente, todos os olhos de essa
gente do Sul, extáticos e saudosos da distância, pasmados na avidez dos longes,
olhos firmes e dilatados, como luzeiros de alma, à espera desde o primeiro
princípio, sempre à espera da hora de vencer os ilimitados limites do Além…<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
Nas vozes destes músicos iletrados que de dia são pastores, ganhões,
homens de ofício e caixeiros, ouvem-se redondilhas de poetas de talento e sem
nome, loas votivas ou hinos à sua amada terra em que sempre vibra o velho
orgulho alentejano:<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: center; text-indent: 14.2pt;">
De Pax Julia fui Beja,<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: center; text-indent: 14.2pt;">
Minha nobreza é antiga,<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: center; text-indent: 14.2pt;">
E às outras causa inveja<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: center; text-indent: 14.2pt;">
O bem que de mim se diga…<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
Em estrofes bem rimadas, desafogam-se mágoas, exaltam-se sentimentos
colectivos ou gemem-se queixas de amor, que a música às vezes desmente, sem
qualquer cerimónia nem reparo dos ouvintes…<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
Os cantadores vão-nos levando com eles para altitudes de entusiasmo ou
para zonas de pura comoção humana. </div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="text-indent: 14.2pt;">…corais espontâneos, geralmente constituídos por homens, alguns outros
mistos, neles entrando quatro ou cinco raparigas, com vozes de maviosa clareza
e suavidade.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<o:p></o:p></div>
<div style="text-align: justify; text-indent: 18.933332443237305px;">
...</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
Ninguém sabe como nasceram, onde se inspiraram, que escola tiveram
estes aedo-campaniços que um rapsodo guia, dando o ponto, a dialogar com o coro
ou a fundir-se nele em harmoniosa orquestração.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
Em filas ordenadas se deslocam, enlaçados pelos braços uns dos outros,
para constituir solidário volume de órgão vivo, movendo-se com lentidão mais
que alentejana, de olhos fechados os de maior transporte, para deixarem subir
as almas harmonizadas até aos balcões dos castelos das nuvens e das estrelas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
…<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
Solene, respeitoso, ritual, é o andamento na rua, em que as filas de
balançam de lado a lado, com o mais vagaroso compasso.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
Os pés deslocam-se a oscilar em esboços coreográficos, como se por
obediência a remota inspiração, uma dança litúrgica se fosse ali executando
para subir em pomposa solenidade, a grande nave de uma catedral.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
…<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
A qualquer conclusão a que chegue o investigador pelo caminho da
verdade, por análises e confrontos essenciais, não comecem a dar mestres de Música
aos cantores rurais de Beja nem os queiram eles aceitar, a título de
aperfeiçoamento, para não vir a perverter-se a espontaneidade, a sinceridade
das suas modas, o religioso e agreste encanto do seu Canto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
…<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
Junho-944 – Beja Cantadora Hipólito Raposo in Oferenda <o:p></o:p></div>
Leonor Raposohttp://www.blogger.com/profile/13554672714521585651noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7029908.post-56419455179387770642013-11-09T19:55:00.000+00:002013-11-09T19:55:10.154+00:00Da costura<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Olhei para o sítio específico da “roupa
para coser” e suspirei. O pequeno monte tinha-se tornado montanha, precisava de
alpinista. Lá teve de ser. Uma escalada de agulha e linha na mão.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Quem me conhece de pequena sabe
da minha falta de jeito para tudo o que seja manual. Sabem destas mãos
desastradas. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Até ao 5º ano (actual 9º)
tínhamos as disciplinas de Desenho e Trabalhos Manuais (para as meninas eram
afinal lavores). Era dada nota por cada uma mas depois contava a média como se
fosse apenas uma. Sucede que nada do que fazia resultava, quer a uma quer a
outra. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A Desenho, especialmente o
geométrico, depois de extenuante esforço com o compasso, régua e esquadro, para
produzir qualquer coisa aceitável (sempre era melhor que o desenho livre!)
temia o tira-linhas e a tinta. Todo o trabalho anterior ficava oculto debaixo
dos borrões, o que era uma injustiça mas ninguém entendia. Isto para não falar
de nem com a régua conseguir desenhar uma recta que fosse recta. Eram sempre
rectas especiais. À minha maneira.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A Lavores ficou célebre a minha “roseta”
de <i>crochet</i> num teste, porque mais
parecia uma miniatura de boina. Esquecera-me de acrescentar qualquer coisa a
cada fila. O tal enxoval de bebé, para o qual fazíamos uma ou duas peças por
ano, teve sempre de ser acabado pela professora (odiosa, diga-se) e acredito
que ainda tivesse de desmanchar a minha parca e deficiente produção.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Estas mãos de bruxa, porque de
fada não eram, davam pois direito a negativa negativíssima.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
No colégio acabavam por ter pena
de mim, sempre com boas notas nas outras disciplinas e um desastre naquelas. Assim, as duas notas eram “levantadas” para que não chumbasse. Lá estavam, bem a encarnado na caderneta, para
que soubesse do “levantamento”, o 9 a Desenho e o 10 a Trabalhos Manuais, ou
vice-versa consoante os anos.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Hoje sei que parte do desastre
tinha a ver com ser canhota. Não me adaptava aos instrumentos…<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Por isso, sinto que em cada botão
pregado, em cada bainha feita, em cada passajar de meias, em cada buraco cosido,
por pior que fiquem, por mais tortos os pontos, estou a subir aquelas notas a
encarnado. Nunca hei-de chegar ao 20, mas não preciso.<o:p></o:p></div>
Leonor Raposohttp://www.blogger.com/profile/13554672714521585651noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7029908.post-1155043061785977272013-11-08T00:08:00.001+00:002013-11-08T00:08:54.546+00:00Do êxodoO dia 92 no Eternas Saudades do Futuro<br />
<br />
<a href="http://do-futuro.blogspot.pt/2013/11/carteira-de-senhora-92.html">http://do-futuro.blogspot.pt/2013/11/carteira-de-senhora-92.html</a>Leonor Raposohttp://www.blogger.com/profile/13554672714521585651noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7029908.post-50285839750388923522013-11-01T00:12:00.000+00:002013-11-01T00:12:19.795+00:00Do património e do dia de Todos-os-SantosO dia 91 no Eternas Saudades do Futuro<br />
<br />
<a href="http://do-futuro.blogspot.pt/2013/11/carteira-de-senhora.html">http://do-futuro.blogspot.pt/2013/11/carteira-de-senhora.html</a>Leonor Raposohttp://www.blogger.com/profile/13554672714521585651noreply@blogger.com0